É peça-chave nos movimentos de qualidade assistencial e segurança do paciente, parte imprescindível de qualquer equação que foi ou venha a ser pensada para problemas nestas duas áreas em que o apelo científico e popular é tão atual e forte.
Artigo de Guilherme Brauner Barcellos publicado no portal saudeweb.com.br em 13/10/2011.
Qualidade e segurança no setor saúde envolvem operações absurdamente complexas. Nenhuma variável isoladamente será real solução para o sistema – nem mesmo a minha tão querida Medicina Hospitalar e seus médicos hospitalistas.
Sabemos que certos eventos adversos, como algumas infecções e úlceras de decúbito, podem ser reduzidos por padrões já estimulados por Acreditadoras. Mas outros, não – e não são poucos ou minoria, pelo menos até o momento.
Então como PROMETER segurança, se mundialmente não parece haver avanços robustos deste o fatídico relatório do Institute of Medicine, To Err Is Human: Building a Safer Health System, de 1999?
Naquela época, falava-se em até 98 mil mortes por ano nos EUA relacionadas a erros na assistência à saúde. No final do ano passado, no New England Journal of Medicine, publicaram Temporal Trends in Rates of Patient Harm Resulting from Medical Care. Não é um estudo perfeito, tal como já não tinha sido o Harvard Medical Practice Study, que serviu de base para o trabalho do IOM. Lançaram mão da Institute for Healthcare Improvement’s Global Trigger Tool, que também não é uma ferramenta perfeita, mas está entre o que se tem de melhor para procurar erros. Os autores não encontraram evidências significativas de ganho em segurança do paciente de 2002 a 2007. Informações adicionais sobre este cenário podem ser lidas também em Progress Slows in Improving Patient Safety for All Populations.
O estudo do NEJM foi notícia no New York Times, e Bob Wachter, considerado o pai da Medicina Hospitalar e expert em segurança do paciente, escreveu:
“I think the study tells us something we’ve already figured out: that improving safety is damn hard. Sure, we can ask patients their names before an invasive procedure, or require a time out before surgery. But we’re coming to understand that to make a real, enduring difference in safety, we have to transform the culture of our healthcare world – to get providers to develop new ways of talking to each other and new instincts when they spot errors and unsafe conditions. They, and healthcare leaders, need to instinctively think “system” when they see an adverse event, and favor openness over secrecy, even when that’s hard to do. Organizations need to learn the right mix of sharing stories and sharing data. They need to embrace evidence-based improvement practices, while being skeptical of practices that seem like good ideas but haven’t been fully tested. And policymakers and payers need to create an environment that promotes all of this work – policies that don’t tolerate the status quo but steer clear of overly burdensome regulations that strangle innovation and enthusiasm. In other words, the fact that we haven’t sorted all this out only seven years after the launch of the Good Ship Safety shouldn’t be too surprising.”
Devemos então prometer segurança como quem promete o mesmo quando vende um carro moderno?
Mesmo reconhecendo que discutir segurança no setor saúde deve ser estimulado e que não devemos fazer em um tom alarmista ou pessimista, o que somente aumentará a cortina de fumaça sobre seus muitos problemas, será que traduzindo a ideia de que existe uma solução pronta é a melhor maneira? Interesses secundários não estão prevalecendo neste formato?
Segundo Anita E. Negrão Caldas, em opinião já divulgada por este portal, “apesar de agregar valor ao processo de atendimento ao paciente, foi ocorrendo uma progressiva distorção do objetivo da Acreditação. É desconcertante encontrar instituições com um diploma ou placa na porta, orgulhosamente colocando seu grau de acreditação, um, dois ou três, quando o que se vê destoa gritantemente do que declara. Parece-me que, quanto menos merecedor o serviço, mais ufano comemora seu diploma”. Eu, que fui até recentemente diretor sindical ativo, conheço muito de nosso submundo. E fico surpreso ao vê-lo sendo destacado e não é infreqüente. Certas vezes, percebo a propaganda começar antes mesmo do trabalho concluído.
De um modo geral, há intensa troca de afagos e dengos entre Acreditadoras e quem é avaliado. Não deveria ser mais neutra ou mais focada esta relação?
O objetivo geral da avaliação por terceira parte é fornecer confiança a todas as partes. Alguns princípios para inspirar esta confiança são independência e imparcialidade, na aparência e na ação. Ameaças, como um relacionamento muito próximo entre avaliado e avaliador ou a oferta em paralelo de consultorias e serviços, são fontes de conflitos que podem comprometer, ou tender a comprometer, a habilidade de fazer observações e chegar a conclusões imparciais.
A Acreditação Hospitalar precisa crescer em nosso meio. Ela parece ser importante, por mais que custe caro e nem sempre seus resultados sejam percebidos pelos usuários finais do sistema. Para que se desenvolva em benefício de todos, deve, tal como todo o sistema, estar em constante avaliação e buscando aperfeiçoamento.