Mas o problema não é só do trabalhador. Questões como acesso tecnologia, burocracia e infraestrutura influem direta ou indiretamente na capacidade de produção
Segundo dados da consutoria internacional Conference Board, a produtividade do trabalhador brasileiro equivale a 25% da produtividade do trabalhador americano. Os Estados Unidos são usados como a base de comparação entre os países pela entidade, mas têm uma produtividade menor do que a da Noruega, por exemplo. O Brasil fica atrás do Japão e países da Europa Ocidental, como Alemanha, Reino Unido, Itália ou França. E dos trabalhadores do México, que têm 36% da produtividade de um americano.
Os brasileiros ficam à frente dos chineses, que têm 19% da produtividade americana, e dos indianos, com 11%. Mas o que isso quer dizer sobre a capacidade de trabalho do brasileiro? O Nexo conversou com especialistas sobre a questão.
Brasileiros têm 25% da capacidade de trabalho de um americano?
Não. Segundo Otto Nogami, professor de economia do Insper, “não se pode analisar apenas o indivíduo”. Para calcular a produtividade de cada país a Conference Board compara dados do Produto Interno Bruto – a soma de todas as riquezas produzidas por um país – com o número de trabalhadores empregados. A capacidade de trabalho é um dos fatores que influenciam essa produção total, mas fatores que não têm nada a ver com o trabalhador também pesam.
Se trabalhasse sob as mesmas condições de um trabalhador americano – como infraestrutura de transporte e tecnologia – é provável que o brasileiro produziria bem mais do que o que consegue produzir no Brasil, diz.
Como compara PIB com população empregada, o índice pode gerar distorções: se muita gente é demitida de uma vez e a população que trabalha cai mais rápido do que o PIB, cada funcionário que continua em seu posto passa a corresponder a uma parcela maior da produção total e se torna “mais produtivo”. Mesmo com a economia se saindo mal.
Por que o brasileiro tem uma produtividade baixa?
Tecnologia
Um dos fatores que determinam a baixa produtividade do brasileiro é a tecnologia defasada em relação a países mais competitivos, como os Estados Unidos. Ou seja, se um trabalhador dispõe de instrumentos melhores, acaba sendo mais produtivo.
Infraestrutura produtiva
Em artigo para o jornal “Folha de São Paulo”, o professor da Fundação Getúlio Vargas Pedro Cavalcanti Ferreira destaca como fator para a baixa produtividade as “longas filas de caminhões aguardando embarque de soja” em portos. A falta de infraestrutura afeta a eficiência dos negócios e a produtividade do trabalhador de forma indireta.
Burocracia
O Brasil também gasta muito tempo com “tarefas que pouco adicionam ao produto final”, diz Ferreira. O país fica na 116º posição entre 189 países analisados pelo relatório Doing Business 2016, do Banco Mundial, que leva em consideração dados de 2015. Ele analisa o ambiente de negócios a partir da facilidade de abrir empresas, obter alvarás de construção e conseguir crédito, por exemplo. Isso significa gasto de recursos com atividades que não aumentam o Produto Interno Bruto e, consequentemente, não têm impacto positivo na produtividade do trabalho.
Infraestrutura de transportes
A falta de infraestrutura também afeta diretamente a capacidade de trabalho de um funcionário. Segundo Nogami, grande parte da baixa produtividade do brasileiro vem da “forma como o Estado cuida da sua sociedade”. Isso se expressa, por exemplo, na deficiência do transporte das grandes cidades. “Quem mora na periferia e trabalha no centro demora duas horas para chegar ao trabalho. Já chega cansado, estressado.” E produz menos.
Rotatividade
A rotatividade da mão de obra também influencia em sua produtividade. De acordo com o professor, a média de tempo que um trabalhador fica em uma mesma empresa no Brasil é de quatro anos, um período considerado curto. Ficando pouco na empresa, o funcionário não tem tempo de compreender a cultura dessa e dominar completamente a própria função. Contratar um novo funcionário e treiná-lo tem altos custos para as companhias. “O trabalhador não se especializa”, diz.
Qualificação
Outro fator frequentemente destacado quando se fala da baixa produtividade brasileira é a baixa qualificação do trabalhador. “O analfabetismo funcional [capacidade de reconhecer letras e números, mas incapacidade para compreender textos simples e realizar operações matemáticas elaboradas] é alto. O trabalhador tem dificuldade em ler um manual, por exemplo. E não tem domínio sobre ferramentas de planejamento e cálculo que poderiam fazer com que seu trabalho rendesse mais. Ao não conseguir dominar isso, fica na base da tentativa e erro, que consome um tempo danado.”, diz Marisa Pereira Eboli, especialista em gestão da Universidade de São Paulo.
Segundo a professora, ter uma base ruim em cálculo e leitura torna mais difícil para o trabalhador brasileiro se atualizar durante a sua carreira, algo necessário conforme a mudança de tecnologia se torna mais constante.
Falta de foco e objetividade
De acordo com Nogami, do Insper, não há dados de estudos abertos sobre a objetividade do brasileiro. Mas empresas multinacionais têm comparações internas que apontam que o trabalhador nacional é menos objetivo do trabalho do que europeus ou americanos.
“O indivíduo chega, toma um café, verifica as mensagens que recebeu, lê o noticiário. Demora uma hora para começar a trabalhar. E quando vai se aproximando do horário do almoço começa a planejar onde vai comer e a produtividade volta a cair”, diz Nogami. Um efeito colateral dessa tendência a demorar a produzir são as horas extras. “O americano larga o lápis assim que deu o seu horário e vai embora, e mesmo agindo dessa maneira é produtivo. O brasileiro tende a fazer mais horas extras”, diz.
Para o professor, isso tem origem na educação básica. “É uma questão cultural sem dúvida nenhuma. À medida que o ensino fundamental é fragilizado, o comportamento ao longo da vida também será. Isso contribui para dispersão, baixo senso de responsabilidade”, diz.
Fonte: André Cabette Fábio