Artigo de Francisco Teixeira Neto, especialista de Projetos da Fundação Nacional da Qualidade
Interpretar o universo material, as partes que o compõem e de que forma elas interagem e dependem não é tarefa tão simples quanto muitas pessoas presumem. A racionalidade pode contribuir para abordar e entender a realidade, mas não é suficiente para incorporar a subjetividade que está presente na vida, desde tentar descrever simples objetos, repassar informações ou avaliar a gestão de negócio. A figura abaixo ilustra um clássico exemplo disso, no qual mesmo as pessoas descrevendo o que tocam não possibilita àquele que não vê a imagem saber do que ela se trata.
No dia a dia do ambiente organizacional, observa-se muitos exemplos da falta de pensamento sistêmico na forma de atuação e na tomada de decisões. A figura abaixo ilustra uma situação absurda, mas que, analogamente, é encontrada nas organizações.
1) Um gerente de produção, quando percebe que haverá um atraso na entrega de produto, diz: “Isso é problema de vendas, eles que se virem com os clientes”.
2) Recepcionista de uma loja, ao comentar com uma colega sobre uma sugestão de melhoria dada por um cliente: “Se ela não está satisfeita com nossos produtos, que procure outra loja”.
3) Pensamento de um vendedor de uma indústria ao formalizar um pedido, mesmo sabendo que a empresa não tem capacidade de entregar no prazo acordado com o cliente: “Meu papel é vender, produzir é problema do nosso pessoal de produção. Eu cumpri a minha meta”.
Situações como as acima, em que as pessoas esquecem que o sucesso de uma empresa depende da harmonia entre produção e vendas, ou que o cliente é a razão de existir de um negócio, entre tantas outras, são mais comuns do que se imagina, assim como:
– ações para aumento da produtividade mesmo que acarretem maior número de acidentes, de peças rejeitadas ou a perda da qualidade.
– substituição da matéria-prima para baratear um produto, embora isso possa comprometer a qualidade, colocar em risco o usuário ou gerar maior impacto socioambiental.
– estimular a produção e o consumo sem consciência e responsabilidade, mesmo que isso acarrete a utilização dos recursos naturais, renováveis e não-renováveis, impactando na qualidade de vida das gerações atuais e futuras.
– passar constantemente gastando um tempo excessivo no trabalho, ainda que isso coloque em risco sua integridade física, mental ou emocional.
Poderiam ser dados muitos exemplos que ilustram a falta de pensamento sistêmico, tanto na vida pessoal quanto profissional, que podem parecer insensatos, mas que demonstram falha ao pensar sistemicamente. Portanto, seja na interação entre pessoas, empresas ou sistemas, interpretação de fatos, realização de atividades ou tomada de decisão, toda atividade humana pressupõe uma relação cíclica e não linear, de causa e efeito, de interdependência entre vários elementos que atuam conjuntamente e com o todo do qual fazem parte. Essa compreensão pode determinar a sobrevivência e a perenidade das partes e do todo.
Fonte: FNQ