Setor hospitalar deve investir em governança

Para crescer, gestores devem procurar novas formas de capitalização e redução de custos. Os principais fatores que afetam o mercado são variação cambial e difícil acesso ao financiamento

Cortar custos, melhorar processos e buscar inovação são ações que devem exigir das empresas do setor hospitalar privado a profissionalização com o modelo de governança corporativa. Afinal, alta de juros, câmbio desfavorável e conservadorismo das instituições financeiras são alguns dos desafios do mercado este ano, revela estudo do setor.

O novo cenário, apesar de complexo, se mostra como oportunidade para os hospitais melhorarem os serviços e serem mais eficientes. É o que explica o presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin.

Para ele, as empresas devem se estruturar e aprender a oferecer mais, com os mesmos recursos. “O serviço prestado é importante, mas temos o lado empresarial e somos como qualquer outra companhia”, declara.

Ele lembra que entre os principais impactos que a instabilidade econômica nacional pode trazer para o setor estão: o encarecimento dos insumos, a falta de capital de investimento e a alta do índice de desemprego, que pode diminuir a demanda de planos de saúde corporativos.

Cursos

O mercado sabe, entretanto, que algumas instituições de ensino já oferecem cursos de governança corporativa, em parceria com instituições de saúde como a FGV e o Ibmec – o que pode ajudar a estruturação de empresas do ramo.

De acordo com o estudo Sensor Anahp, os hospitais precisam dispor de aporte considerável de capital de giro, já que o prazo médio de recebimento pode ser muitas vezes superior ao prazo médio de pagamento dos fornecedores e de salários, o que acaba prejudicando. Na área financeira, porém, a alta de juros atrapalha a tomada de empréstimos e o acesso das instituições hospitalares ao financiamento.

Para equilibrar a dificuldade do capital próprio, o investimento estrangeiro pode trazer novos recursos, já que os bancos estão com financiamentos cada vez mais caros, explica o especialista da Anahp.

Outro fator que deve atingir o setor é a alta do dólar, que provocará aumento dos preços dos insumos. Segundo Balestrin, entre 30% e 40% dos produtos utilizados nos hospitais são importados. “Mesmo que procuremos fabricantes nacionais, alguns produtos não têm substituição”, analisa.

Para ele, a política comercial nos últimos anos favoreceu o equipamento importado, o que impactou a fabricação nacional. “Houve desindustrialização na saúde. Muitas companhias deixaram de fabricar ou passaram a importar”.

Tributação

A alta tributação também deve aumentar os gastos do setor. O ICMS é o principal imposto incidente sobre o setor de saúde, no âmbito estadual e o ISS no municipal, além de outras taxas para o segmento.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) de 2010, em média um terço do valor pago pela população por qualquer produto ou serviço de saúde é composto por impostos, taxas e contribuições. “A reforma tributária, particularmente para a saúde, seria fundamental para estimular a prestação de serviços e a geração de mais empregos na saúde, o que contribuiria para a sustentabilidade do setor no longo prazo.”

Tendência

O aumento do indicador de desemprego é outro fator que pode prejudicar o segmento. “A demanda por saúde suplementar aumentou, sobretudo, pelo aumento do poder aquisitivo da população e os planos de saúde corporativos”, diz o executivo. No entanto, com perspectiva de desemprego haverá uma diminuição de planos nas empresas. Além disso, o dinheiro disponível das famílias para a compra de medicamentos ou para pequenas cirurgias pode diminuir se a retração continuar.

Fonte: DCI – 10.03.2015