Folha de S. Paulo: “Não havendo estrutura, não haverá acesso”, debate Meinão da APM

Durante seminário sobre Saúde promovido pela Folha de S.Paulo, presidente da APM questiona afirmações sobre falta de médicos no país

Programado para ocorrer nos dias 11 e 12 de maio, o “2º Fórum – A Saúde do Brasil” pretende debater os principais temas relacionados à área da Saúde, com palestrantes que atuam em diversas esferas do setor. O ministro da Saúde, Arthur Chioro, fez a abertura do evento. Florisval Meinão, presidente da Associação Paulista de Medicina, foi convidado para o painel “Faltam médicos ou falta planejamento na Saúde?”, na manhã da última segunda-feira (11).

Questionado pela jornalista e mediadora Cláudia Collucci, Meinão discordou de afirmações sobre número insuficiente de médicos no país, e explicou que trata-se de má distribuição, reflexo de uma combinação de fatores. “Em algumas capitais, temos 11 médicos para cada mil habitantes, muito acima dos 2,7 sustentados pelo ministro Arthur Chioro. Porém, faltam médicos nas periferias dessas cidades. Em São Paulo, por exemplo, temos quatro médicos para cada mil habitantes, e foi noticiado hoje nos jornais retração de 21% no atendimento das unidades de saúde da capital.”

Ainda de acordo com ele, a grande verdade é que os médicos estão mal distribuídos, concentrados nos grandes centros urbanos e, nesses locais, estão longe das periferias. E isso leva à reflexão se trazer mais médicos resolverá os problemas da saúde. “Evidentemente que não, porque o acesso à saúde depende muito da estrutura oferecida para o atendimento. Não havendo estrutura, não haverá acesso”, enfatizou.

Além do presidente da APM, participaram do debate Mario Dal Poz, professor do Instituto de Medicina Social da UERJ, e Milton de Arruda Martins, professor titular de Clínica Médica da FMUSP. Consenso entre os três, o subfinanciamento é o principal entrave no setor e problema que impede ações de melhorias.

Ministro da Saúde reconheceu falta de recursos
Durante a abertura do “2º Fórum – A Saúde do Brasil”, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que realmente falta financiamento na área, sendo um dos problemas o reparte maior destinado ao setor privado. A proposta para mudar o quadro é discutir a situação com a sociedade e o Congresso. “Se nós queremos ter um sistema universal, que garanta cuidado integral, vamos ter de enfrentar e mudar essa realidade. Precisamos discutir qual é o padrão de gasto que o Brasil quer na Saúde.”

Disse também que a questão do subfinanciamento tem gerado um mal estar entre as esferas de governo, pois cria uma espécie de “disputa”, o que não é razoável e tampouco ajudará a resolver a situação. Chioro afirmou ainda que o Governo Federal tem priorizado a atenção primária, e uma vez implementado, o Mais Especialidades deverá ser um divisor de águas na relação de distribuição de recursos. O projeto, segundo o ministro, está em processo de formulação.

Outros debates

O primeiro painel do dia foi sobre a falta de sustentabilidade do sistema de Saúde, com Antônio Britto, presidente executivo da Interfarma, Pedro ramos, diretor da Abramge, e Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital Sírio Libanês. Os outros painéis da segunda-feira foram: “Brasil: Pátria inovadora?”, com Jarbas Barbosa, secretyário de Ciências e Tecnologia do Ministério da Saúde, Paulo Hoff, diretor geral do Icesp, Carlos Henrique de britto Cruz, diretor Científico da Fapesp, e Carlos Goulart, presidente executivo da Abimed; e “Aumento dos custos e o futuro da saúde privada”, debatido por Eudes Aquino, presidente da Unimed Brasil, Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da Anahp, e Martha Regina de Oliveira, diretora-presidente substituta da ANS.