Condições sanitárias básicas dos países mudam perfil das bactérias em diferentes processos infecciosos, diz pesquisa
Um importante agente causador de doenças infecciosas diarréicas foi mapeado por pesquisadores nos quatro continentes. A pesquisa sobre a bactéria Shigella acaba de gerar um artigo na prestigiosa revista Nature Genetics. O estudo, realizado colaborativamente com pesquisadores de vários países, entre eles o Brasil, apontou que as condições sanitárias básicas dos países mudam o perfil das bactérias que promovem os diferentes processos infecciosos.
De acordo com o professor Wanderley Dias da Silveira, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que integrou o grupo de pesquisa, esta é a primeira investigação comparada com tantas amostras ao mesmo tempo. O trabalho envolveu ao todo 132 linhagens da bactéria Shigella, vindas de quatro continentes, com o objetivo de estabelecer a sua origem, já que desencadeia surtos de diarréia infecciosa não somente em países subdesenvolvidos, mas também em países em desenvolvimento e desenvolvidos.
Dados do levantamento mostram que essas bactérias ainda levam a processos infecciosos e com o agravante de que às vezes uma espécie é substituída por outra. “Nos países desenvolvidos, anteriormente a Shigella flexneri, que era a espécie mais prevalente, foi aos poucos substituída pela Shigella sonnei”, afirma. Diversas espécies de Shigella comenta ele, são conhecidas. A sonnei é uma das mais importantes. Além de ter maior incidência e maior prevalência, dependendo do país no qual é feita a pesquisa, normalmente reflete as condições básicas de higiene e saúde da população.
“O nosso texto final demonstrou a resistência aos antibióticos na quase totalidade dos isolados responsáveis por este tipo de infecção e deve lançar luzes sobre os mecanismos de transmissão”, destaca. As amostras foram analisadas em laboratórios do Reino Unido, Austrália e China. A parte que coube ao Laboratório de Wanderley foi o desenho da experimentação, a cessão de amostras isoladas do Brasil (que compõem a coleção do seu laboratório), bem como a discussão da metodologia e colaborações no desenvolvimento do trabalho. O estudo foi realizado colaborativamente com pesquisadores de vários países, entre os quais do Reino Unido e da Austrália.