Os especialistas dizem que o remédio para o envelhecimento não está apenas nas farmácias e hospitais, mas no modo de vida das pessoas. “A moderna geriatria trabalha hoje muito mais voltada à estabilização da doença e à tentativa de prevenir ou antecipar seus sintomas, e menos à procura da cura”, diz Renato Veras, médico, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/Uerj) e professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Para ele, o grande problema na velhice não é a doença, mas como se lida com ela. Com essa tese, Veras defende que a “cura” dependeria muito mais do sistema de saúde que, em lugar de submeter o idoso a mais e mais exames e consultas com especialistas, ofereceria a ele uma espécie de “médico gestor” que se ocuparia do conjunto de sua saúde.
A importância dos cuidados integrados aos idosos aparece em muitas pesquisas, no Brasil e lá fora. Apenas o projeto Longevos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tem pelo menos 60 pesquisas em andamento relacionadas ao envelhecimento. “As doenças mais pesquisadas são as neuro degenerativas, principalmente, a demência de Alzheimer”, diz Clineu Almada Filho, médico e professor de geriatria e gerontologia da Unifesp.
Segundo ele, pelo menos 10% da população com mais de 65 anos têm essa doença e aos 85 anos já são pelo menos 45%. Com custo social e financeiro altíssimo, o Alzheimer vem sendo o grande foco das pesquisas no mundo todo. “Acredita-se que a doença tem início 20 a 30 anos antes de se manifestar. E embora não tenhamos ainda um tratamento adequado, é possível retardá-la ou tratá-la precocemente”, garante.
Por esse perfil, o Alzheimer é uma das enfermidades que melhor ilustram a corrida em busca de uma vida mais saudável na velhice. Mas não é a doença que mais mata. Antes, estão as cardiovasculares, como infartos do miocárdio e AVCs, o câncer, e infecções respiratórias.
“Hoje as pessoas vivem mais, porém com qualidade de vida ruim, com diversas incapacidades. Por isso o foco das pesquisas em geriatria é como prevenir essas incapacidades decorrentes do envelhecimento”, diz Thaís Ioshimoto, médica geriatra e coordenadora da residência em geriatria do Hospital Israelita Albert Einstein.
Pedro Kallas Curiati, médico do Núcleo Avançado de Geriatria do Hospital Sírio Libanês, reforça a tese de que os principais fatores que as pesquisas associam à longevidade e envelhecimento bem sucedido são relacionados a bons hábitos de vida. Além da oncologia, observa, a doença de Alzheimer é um dos focos mais pesquisados no Sírio-Libanês. “É uma área de estudo difícil e até agora não foi identificado nenhum tratamento capaz de reverter o processo”, diz. “Sua prevalência, no entanto, dobra a cada cinco anos”, afirma.
Segundo Almada Filho, quando se fala do envelhecimento de um modo geral, tem-se que o estado de saúde da pessoa depende 75% de estilo de vida e fatores ambientais e 25% da bagagem genética.
Uma das pesquisas da Unifesp, de linha epidemiológica, começou ainda em 1991 com uma mostra populacional com mais de 65 anos moradora da Vila Clementino, zona sul de São Paulo. O estudo está na quarta fase e deu origem a várias outras pesquisas. “Hoje está muito claro que os dois fatores de risco para a mortalidade mais importantes em análises multi fatorais são a independência funcional e a autonomia, embora outros indicadores chamem muito atenção, como o risco de queda e hospitalização”, conta.
Os estudos, e a longevidade em si, estão mudando o conceito de velhice como doença a ser curada, passando a um processo de desgaste que deve ser conduzido da melhor forma. É natural que o coração de um menino de 15 anos bata com mais vigor que o coração de alguém com 70 anos. “O processo de envelhecimento leva consigo um fato, quase que natural, que é um desgaste orgânico. Logo, o maior fator de risco é a própria idade”, conclui Veras.
Ele cita os cinco principais fatores de risco que retiram qualidade e anos de vida, e que são reconhecidos no meio científico: álcool, cigarro, estresse, sedentarismo e alimentação inadequada.
Não faltam informações, nem núcleos de pesquisa no Brasil, mas ainda há grande distância entre “verdades do conhecimento científico” e a possibilidade de mudanças sociais e comportamentais imediatas e radicais, segundo Veras. “Não adianta saber que a estabilização da doença é muito mais importante, porque doenças crônicas não se curam, estabilizam. Essas informações não fazem parte do ideário da sociedade brasileira que imagina que quando mais médicos melhor”, afirma.
O médico Andre Fattori, professor de geriatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) observa que muitas vezes pesquisas científicas em busca de exames de última geração podem custar caro demais em benefício de pequena parcela da população. “A pesquisa científica pode se desenvolver através de técnicas diagnósticas de custos menores que possibilitem acesso a uma parcela maior da população”, afirma.
As pesquisas mais avançadas, ressalva, trazem um desenvolvimento global para o país, mas que é preciso “pensar em estratégias de baixo custo, para que a população tenha amplo acesso a estratégias diagnósticas”. Segundo ele, os estudos mais recentes pesquisam a sarcopenia, fragilidade, demência dos tipos vascular e Alzheimer. “São doenças que que nós não conhecíamos 25 anos atrás e que hoje aparecem de maneira enfática”, observa.
Fonte: Valor Econômico – 26/04/2018