Algumas pessoas batalham a vida inteira para alcançar uma boa reputação. Mas o americano Taylor Mali conseguiu isso com um único discurso, feito espontaneamente durante um concurso de poesias em Chicago, em 2000.
Na época, Mali era professor do ensino médio em Nova York e comentava com a plateia a ocasião em que foi esnobado por um advogado por ter escolhido uma profissão mal remunerada.
“Você quer saber o que eu faço? Eu faço esses jovens se esforçarem mais do que eles julgavam ser capazes”, disse Mali, iniciando uma fala que viria a ser colocada no YouTube e assistida mais de 6 milhões de vezes. “Eu faço um aluno mediano se sentir o mais inteligente da turma e faço com que um gênio busque nada menos do que a perfeição.”
E ele foi além, proferindo que ensinar é um trabalho nobre e não pode ser julgado apenas pelo valor do salário pago.
Hoje, assistindo ao vídeo, Mali reconhece que o discurso fez sucesso por causa do tom apaixonado que usou. “A fala está carregada de uma indignação justificada, e isso é sempre positivo em uma oratória”, define.
Foco na plateia
Essas mesmas características também tendem a funcionar no ambiente corporativo.
As apresentações acompanhadas de PowerPoint são praticamente uma constante, mas poucas empresas realmente treinam seus funcionários para evitar que o discurso seja menos “seco e analítico”, como define Jill Avery, professora da Harvard Business School, nos Estados Unidos. “Imagine o impacto de uma apresentação carregada de envolvimento emocional ou com um forte arco narrativo.”
Segundo a especialista, falar em público é algo que pode ser aprendido. “Algumas pessoas acreditam que ou são bons oradores ou não são. Mas a verdade é que essas habilidades podem ser dominadas com a prática”, explica Avery.
Para começar, ela sugere que se evite o erro mais comum quando alguém prepara um discurso, que é se perguntar: “O que eu quero dizer?”. Ao invés disso, Avery dá a dica de se perguntar: “O que a plateia quer ouvir?”.
Um exemplo: durante uma reunião em que você tenha que comunicar notícias negativas, pense no que a equipe precisa escutar para continuar com o moral alto e não só no que os seus chefes querem que você diga.
Outro passo importante é encarar cada discurso como uma história, com introdução, narrativa, argumento, discussão e conclusão. “A plateia deve se sentir levada em uma viagem, em vez de apenas assistir a um relato de fatos e números”, afirma Avery.
Não é só uma boa história que faz uma fala ser convincente e envolvente. “Muitas vezes, o orador exagera na quantidade de slides e gráficos, que acabam se tornando a base de discursos ruins”, diz a professora.
Em vez disso, tente primeiramente criar uma boa apresentação e depois pense em recursos audiovisuais que possam ajudá-lo a contar a narrativa. “Os maiores discursos da História não tiveram PowerPoint”, aponta Avery.
Um erro comum de muitos gerentes, ao prepararem uma apresentação para clientes ou para seus superiores, é reaproveitar slides antigos e criar um discurso em torno deles.
Segundo Tor Haugnes, professor da BI Norwegian Business School, em Oslo, é importante praticar diante de alguém conhecido e confiável
“Use slides para acrescentar algo à apresentação, para incrementá-la”, ensina Avery. “E nunca coloque trechos de sua fala nas figuras. Apenas utilize elementos visuais para enfatizar os pontos que você está destacando verbalmente.”
A importância da prática
A próxima etapa é praticar diante de alguém conhecido e confiável, segundo recomenda Tor Haugnes, professor da BI Norwegian Business School, em Oslo, na Noruega. “Essa pessoa poderá fazer comentários honestos e construtivos sobre a apresentação.”
É possível que, no início, muita coisa saia errada. “É normal adotarmos algum tipo de tique, algo que irrita a plateia”, diz Haugnes. Ele próprio conta que tinha a mania de girar um lápis entre os dedos enquanto falava e só parou quando um colega chamou sua atenção.
“Muitas pessoas têm mais medo de falar em público do que de qualquer outra coisa. Isso, na realidade, é um bom ponto de partida porque você sabe que os outros também sentem o mesmo”, afirma o professor.
Voltando a Mali, o apaixonado professor de Nova York, o sucesso daquele discurso fez com que ele se tornasse um profissional das palestras motivacionais, principalmente em encontros de professores.
“Boa parte de um bom discurso está em encontrar a emoção necessária”, afirma ele. “Sua plateia merece assistir a uma fala e a um desempenho renovados.”
Por isso, da próxima vez que tiver que fazer uma apresentação, ainda que rotineira, lembre-se de contar uma história permeada por emoção. É bem provável que você ganhe os corações dos ouvintes.
Fonte: bbc.com – Eric Barton – 24/03/2015