Retorno do investimento na montagem de salas ambulatoriais no Sistema Único de Saúde

Claudia Garcia Azevedo Soares, Luiz Antonio Vane, Paulo Nascimento Junior, José Mariano Soares Moraes, Lucas Fachini Vane, Leandro Gobbo Braz, Matheus Fachini Vane

Resumo


Introdução: O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde com financiamento governamental. No entanto, a medicina passa por revoluções tecnológicas e os valores repassados pelo SUS podem inviabilizar este modelo de negócios. Objetivo: Estudou-se o tempo de retorno do investimento (ROI) para composição de uma sala cirúrgica ambulatorial e de recuperação pós-anestésica (RPA), tomando como referência a tabela de remuneração utilizada SUS. Métodos: Pesquisa exploratória que considerou um complexo cirúrgico ambulatorial composto por uma sala cirúrgica (tipos II e III) e uma RPA, em regime tipo hospital-dia (4 procedimentos/dia, 25 dias úteis por mês) para realização dos procedimentos cirúrgicos ambulatoriais das especialidades mais frequentemente realizadas pelo SUS. Resultados: Estimou-se o valor de R$ 1.054.715,07 para a montagem do complexo. Considerando o valor total da tabela SUS, encontrou-se faturamento mensal de R$ 33.940,26, o que resulta no ROI de 3 anos. Quando descontado o valor do serviço profissional, este valor foi de R$ 20.066,63, o que resulta o ROI em 4 anos. Quando excluídos os valores dos serviços profissionais e dos itens de consumo, o faturamento bruto diminuiu para R$ 4.294,30, estimando um ROI de 20 anos. No entanto, se considerado a taxa de inflação do período (410 %), o ROI foi estimado em 104 anos. Se considerada a variação cambial (241% em 20 anos), o ROI estimado foi de 70 anos. Conclusão: O modelo atual de financiamento do SUS não viabiliza um modelo de negócios autossustentável em especial quando consideramos a variação do valor da moeda americana e a inflação acumulada no período estudado.

Palavras-chave: Cirurgia ambulatorial; Hospital-dia; Sistema Único de Saúde

 

Study of the payback time in setting up outpatient rooms in The Unified Health System

ABSTRACT

Introduction: The Unified Health System (SUS) has full, universal, and free access with government funding. However, medicine goes through technological revolutions and the values passed on by the SUS can make this business model unfeasible. Objective: To calculate the time of return on investment (ROI) for the composition of an outpatient operating room and post-anesthetic recovery (PAR), taking as a reference the remuneration table used by SUS. Methods: An exploratory research was carried out, which considered an outpatient surgical complex composed of a surgical room (types II and III) and an RPA, in a day-hospital operating regime (4 procedures/day, 25 working days per month) to perform of outpatient surgical procedures of the specialties most frequently performed by the SUS. Results: The value of R$ 1,054,715.07 was estimated for the assembly of the complex. Considering the total value of the SUS table, a monthly billing of R$ 33,940.26 was found, which results in a 3-year ROI. When discounting the value of the professional service, this value was R$ 20,066.63, which results in the ROI in 4 years. When professional services and consumer items are excluded, gross revenue dropped to R$ 4,294.30, estimating an ROI of 20 years. However, considering the inflation rate for the period (410%), the ROI was estimated at 104 years. If the exchange rate variation is considered (241% in 20 years), the estimated ROI was 70 years. Conclusion: The current Unified Health System (SUS) financing model does not enable a self-sustainable business model, especially when we consider the variation in the value of the American currency and the accumulated inflation in the period studied.

Keywords: Outpatient surgery; Day hospital; Brazilian Unified Nacional Health System

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DOI: http://dx.doi.org/10.23973/ras.96.396

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