Rev. Adm. Saúde  Vol. 17,  Nº 69, Out. – Dez. 2017

http://dx.doi.org/10.23973/ras.69.67

 

ARTIGO DE REVISÃO

 

Fatores relacionados ao absenteísmo na equipe de enfermagem: uma revisão integrativa

Factors related to absenteeism in nursing staff: an integrative review

 

Viviane Santos Mendes Carneiro1, Raphael Neiva Praça Adjuto2

 

1. Enfermeira, especialista em urgência e emergência, especialista em gestão em enfermagem. Enfermeira do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás

2. Enfermeiro, especialista em terapia intensiva, especialista em saúde coletiva. Enfermeiro residente em terapia intensiva da Escola Superior de Ciências da Saúde, Brasília - DF

 

 

 

RESUMO

Introdução. O absenteísmo refere-se à frequência ou duração do tempo de trabalho perdido quando os profissionais não comparecem ao trabalho e corresponde às ausências quando se esperava que os mesmos estivessem presentes. Na área da saúde, este assunto tem despertado cada vez mais o interesse dos administradores hospitalares, por ser um dos fatores que implicam na qualidade do cuidado e na segurança do paciente. A enfermagem representa a maior força de trabalho, e é o conjunto de trabalhadores que mais sofre com a inadequada condição de trabalho causadas pelo absenteísmo. Objetivo. Identificar os fatores relacionados às ausências não previstas pelos profissionais de enfermagem através de revisão integrativa de literatura. Métodos. Estudo do tipo revisão integrativa da literatura. As bases de dados utilizadas foram Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e base de dados de enfermagem (Bdenf), utilizando os descritores absenteísmo e enfermagem. Resultados e discussão. Após leitura completa dos artigos, 6 (seis) responderam a questão norteadora, sendo escolhidos para compor este trabalho. Foi possível identificar que o sexo feminino é o mais predominante na equipe de enfermagem, apresentando assim, a maior taxa de abstinência. A categoria profissional que apresentou um maior número de faltas foi a de técnicos e auxiliares de enfermagem. As principais doenças citadas nos estudos foram doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, doenças do aparelho respiratório, doenças infecciosas e parasitárias e transtornos mentais e comportamentais.

Palavras-chave: absenteísmo. enfermagem, recursos humanos.

 

ABSTRACT

Introduction. Absenteeism refers to the frequency or duration of lost work time when professionals do not attend work and correspond to absences when they were expected to be present. In ??health care, this issue has increasingly aroused the interest of hospital administrators, as it is one of the factors that imply quality of care and patient safety. Nursing represents the largest work force, and it is the set of workers that suffers the most from the inadequate working condition caused by absenteeism. Objective. To identify the profile of absences not predicted by nursing professionals through an integrative literature review. Methods. An integrative review of the literature. The databases used were Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs) and Nursing Database (Bdenf), using the descriptors Absenteeism and Nursing. Results and discussion. After complete reading of the articles, 6 (six) answered the guiding question, being chosen to compose this work. It was possible to identify that the female sex is the most predominant in the nursing team, thus presenting the highest abstinence rate. The professional category that presented the greatest number of absences was that of technicians and nursing assistants. The main diseases cited in the studies were musculoskeletal and connective tissue diseases, respiratory diseases, infectious and parasitic diseases, and mental and behavioral disorders.

Keywords: absenteeism, nursing, human resources.

 

 

 

INTRODUÇÃO

O absenteísmo refere-se à frequência ou duração do tempo de trabalho perdido quando os profissionais não comparecem ao trabalho e corresponde às ausências quando se esperava que os mesmos estivessem presentes. Essas ausências não previstas se relacionam às faltas, às licenças (médicas, maternidade, nojo, gala, acompanhamento de familiar, qualificação profissional, etc.) e às suspensões de trabalho1.

As causas do absenteísmo podem ser diversas, tais como: fatores de trabalho, sociais, culturais, de personalidade, doenças, geográficos, organizacionais, físicos, psíquicos, ocupacionais, ambientais, características individuais e de personalidade. Além disso, as causas das ausências não previstas podem nem sempre estar ligadas ao profissional, mas sim à instituição, com processos de trabalhos deficientes, sobrecarga e repetitividade das ações, desmotivação, condições desfavoráveis e precárias, entre outros2.

Na área da saúde, este assunto tem despertado cada vez mais o interesse dos administradores hospitalares, por ser um dos fatores que implicam na qualidade do cuidado e na segurança do paciente3. Na enfermagem o absentismo deve ser um ponto importante a ser considerado e analisado no gerenciamento de pessoal, em especial no serviço hospitalar, que funciona 24 horas4. Neste ambiente, a enfermagem representa a maior força de trabalho, e é o conjunto de trabalhadores que mais sofre com a inadequada condição de trabalho causada pelo absenteísmo5.

A ausência não prevista dos profissionais traz muitos problemas, pois a ausência de um profissional na equipe sobrecarrega o trabalho dos demais, que têm que trabalhar em ritmo mais acelerado, responsabilizando-se por um maior volume de trabalho no processo de cuidar do paciente, e consequentemente, diminui a qualidade e a segurança do serviço prestado ao usuário de saúde5.

Nesse contexto, se faz necessário pensar no ausentismo não somente em seu quantitativo, mas também nos fatores desencadeadores dessas faltas. Para tanto, pretende-se responder com este estudo, a seguinte questão: quais são os fatores relacionados ao absenteísmo na equipe de enfermagem?

Nesse sentido, analisar os fatores relacionados ao absenteísmo, bem como sua ocorrência e prejuízos na enfermagem, pode facilitar a elaboração de um diagnóstico situacional pelos gestores, além de possibilitar estratégias para a diminuição do problema, melhoria da qualidade de vida e saúde dos profissionais da enfermagem, diminuição de sobrecarga de trabalho e assistência segura ao paciente.

 

METODOLOGIA

Estudo do tipo revisão integrativa da literatura. Esse tipo de estudo emerge como uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática6.

Para a elaboração desta revisão, serão seguidos os seguintes procedimentos metodológicos: formulação da questão e dos objetivos da revisão; estabelecimento de critérios para seleção dos artigos; categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; análise dos dados e apresentação dos resultados6.

As bases de dados utilizadas foram Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Base de dados de Enfermagem (Bdenf). Os descritores selecionados foram, com base na terminologia em saúde consultada nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS-BIREME) e da Medical Subject Headings (MeSH): absenteísmo e enfermagem.

Os critérios de inclusão foram textos nacionais sobre o absenteísmo dos profissionais de enfermagem, publicados nos últimos 05 anos, e que respondam à questão norteadora deste estudo. Os critérios de exclusão foram textos que tratam de absenteísmo em outras áreas, que não seja da enfermagem e que sejam revisões integrativas.

Utilizando os descritores Absenteísmo e Enfermagem nas bases de dados escolhidas, respeitando os critérios de inclusão e exclusão, foram encontrados 39 artigos. Após a análise dos títulos e resumos dos trabalhos publicados, 11 foram selecionados para leitura do texto completo e análise. Após leitura completa dos artigos, 6 (seis) responderam à questão norteadora, sendo escolhidos para compor este trabalho.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os artigos selecionados foram publicados entre os anos 2012 e 2015 nas seguintes revistas: Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Mineira de Enfermagem, Acta Paulista de Enfermagem, Revista de Enfermagem UERJ e Revista Brasileira em Promoção da Saúde. Os objetivos, em geral, eram verificar e/ou analisar os índices de absenteísmo da equipe de enfermagem, bem como os fatores relacionados.

As metodologias aplicadas nos estudos respeitaram os critérios de exclusão, que não incluíram estudos de revisão. As abordagens foram todas quantitativas, e os estudos foram, em quase sua totalidade, retrospectivos e descritivos, com exceção de um estudo, que foi prospectivo. O Quadro 1 apresenta a síntese dos artigos selecionados.

 

Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados, de acordo com título, ano, autor, revista, objetivos, metodologia, resultados e conclusão.

Título/ano

Autor/revista

Objetivos

Metodologia

Resultados

Conclusão

O absenteísmo - doença da equipe de enfermagem de um hospital universitário / 20157

Divina de Oliveira Marques, Milca Severino Pereira, Adenícia Custódia Silva e Souza, Vanessa da Silva Carvalho Vila, Carlos Cristiano Oliveira de Faria Almeida, Enio Chaves de Oliveira / Revista Brasileira de Enfermagem

Analisar o absenteísmo-doença da equipe de enfermagem.

Estudo retrospectivo, com abordagem quantitativa, realizado em um hospital universitário, localizado no município de Goiânia, Goiás, Brasil. Os dados foram coletados nos dossiês funcionais dos trabalhadores referentes ao período de 2008 a 2012.

Dos 602 trabalhadores, 435 apresentaram 1574 atestados médicos. As doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, seguidas dos transtornos mentais e comportamentais foram as principais causadoras de licenças médicas. A categoria profissional que apresentou maior número de atestados médicos foi a de técnico em enfermagem. Predominou o sexo feminino e a faixa etária de 41 a 50 anos. O ambulatório foi o local com maior frequência, seguido da clínica médica e do Pronto Socorro.

O absenteísmo-doença compromete o funcionamento do serviço, a equipe de enfermagem e os usuários, promove uma sobrecarga de trabalho e interfere na qualidade da assistência de enfermagem.

Absenteísmo por enfermidade em profissionais de enfermagem / 20158

Vanessa Monteiro Mantovani, Joseane Kalata Nazareth, Dirce Nelci Port Maciel, Cecília Biasibetti, Amália de Fátima Lucena, Isabel Cristina Echer / Revista Mineira de Enfermagem

Identificar a prevalência do absenteísmo, bem como a distribuição e os motivos de ausência entre essa categoria profissional.

Estudo transversal que objetivou caracterizar o absenteísmo por enfermidade em profissionais de enfermagem. A amostra foi de 299 profissionais de um hospital universitário do Sul do Brasil, com coleta de dados no Sistema de Informações Gerenciais e em arquivos do serviço de Medicina ocupacional da instituição, referente ao ano de 2012. A análise dos dados foi estatística descritiva.

Foram 220 (73,57%) profissionais que se afastaram por doença, totalizando 642 atestados e 6.230 dias de afastamento. Destes, 50 (22,7%) foram de enfermeiros, 79 (36%) de técnicos de enfermagem e 91 (41,3%) de auxiliares de enfermagem. As enfermidades mais prevalentes foram: doenças respiratórias nos enfermeiros e doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo nos técnicos e auxiliares de enfermagem.

É alta a prevalência de absenteísmo por doença na enfermagem, o que demanda repensar a organização do trabalho para preservar a saúde dos trabalhadores e diminuir os afastamentos.

Fatores relacionados ao absenteísmo por doença entre trabalhadores de Enfermagem / 20149

Eliete Boaventura Bargas, Maria Inês Monteiro / Acta Paulista de Enfermagem

Avaliar a associação do absenteísmo por doença com o perfil sociodemográfico e relacioná-lo ao trabalho dos profissionais de Enfermagem.

Estudo descritivo exploratório, que analisou atestados médicos de até 15 dias de afastamento do trabalho apresentados por 994 profissionais de enfermagem de um hospital universitário. A fonte de dados foi o sistema de frequência da instituição.

A maioria dos trabalhadores era do sexo feminino, casada e técnica de Enfermagem. A idade média foi de 41,9 anos e um terço atuava no serviço de internação de adultos. Dos 994 profissionais, 645 apresentaram pelo menos um dia de atestado médico.

O absenteísmo por doença teve fatores complexos e multifatoriais. Os fatores associados a ele foram: grupo etário, escolaridade, função, turno de trabalho, tempo na instituição e local de trabalho.

Absenteísmo por doença na equipe de enfermagem de uma operadora de plano de saúde / 201410

Alessandro Formentoni, Vivian Aline Mininel, Ana Maria Laus / Revista de Enfermagem UERJ

Analisar o absenteísmo-doença na equipe de enfermagem de uma operadora de planos de saúde do interior de São Paulo, que integra a rede de atendimento do setor suplementar de saúde nesta região.

Estudo de natureza quantitativa, descritivo, retrospectivo, que analisou o absenteísmo-doença na equipe de enfermagem de uma operadora de planos de saúde do interior de São Paulo. Os dados secundários coletados dos atestados médicos, referentes ao ano de 2007.

A maioria dos 98 profissionais afastados era do sexo feminino, pertencente à unidade hospitalar e geraram 172 afastamentos, com uma média de 1,76 por profissional, decorrentes de doenças do aparelho respiratório. A média de dias perdidos de trabalho foi 5,39, sendo maior entre técnicos de enfermagem da unidade de pronto atendimento.

O absenteísmo afeta a dinâmica organizacional, ambiente de trabalho e a assistência, exigindo reconhecimento das causas para priorização de estratégias de intervenção.

Afastamento do trabalho em profissionais de enfermagem por etiologias psicológicas / 201311

Robson Douglas de Oliveira, Eduardo Borba Neves, Cleverson Higa Kaio, Leandra Ulbrich / Revista Brasileira em Promoção da Saúde

Analisar a incidência e o tempo dos afastamentos ligados especificamente às causas psicológicas entre profissionais de enfermagem. Além disso, procurou identificar fatores de risco para os afastamentos e sugerir ações que possam mitigar os problemas encontrados.

Foi feito um estudo ecológico, retrospectivo, no maior hospital público de Curitiba- PR, com dados de 3.692 profissionais de enfermagem (2.294 auxiliares de enfermagem, 590 técnicos de enfermagem e 808 enfermeiros), de janeiro de 2007 a setembro de 2010.

Verificou-se que a principal causa de afastamentos foram os episódios depressivos (F32), com 784 afastamentos. Quanto ao tempo de afastamento, a causa que por mais tempo afastou os enfermeiros (média de 40,62 dias) foi o transtorno afetivo bipolar (F31). Os auxiliares e os técnicos em enfermagem se afastaram devido ao transtorno depressivo recorrente (F33), em média, por 40,47 e 54,33 dias, respectivamente.

Houve uma alta incidência dos episódios depressivos e o tempo médio de afastamento devido a causas psicológicas foi superior a 30 dias, o que aponta a necessidade de investimentos na prevenção e no cuidado à saúde dos profissionais de enfermagem.

Ausências dos colaboradores de enfermagem do pronto-socorro de um hospital universitário / 201212

Flávio Trevisani Fakih, Luiza Hiromi Tanaka, Maria Isabel Sampaio Carmagnani / Acta Paulista de Enfermagem

Verificar e analisar as ausências dos colaboradores de enfermagem do pronto-socorro de adultos (PSA) de um hospital universitário.

Estudo de abordagem quantitativa, observacional e prospectivo, realizado de janeiro a dezembro de 2009, envolvendo os colaboradores de enfermagem de um PSA.

O PSA teve, em média, 96,8 colaboradores por mês. As ausências previstas corresponderam a 30,1% dos dias de trabalho. A taxa de absenteísmo foi de 11,7%. Houve maior incidência de ausências não previstas no período de maio (15,3%) e agosto (13,3%).

Houve correlação entre as variáveis: categoria profissional; vínculo empregatício e turno de trabalho e a distribuição das ausências previstas e não previstas. O absenteísmo foi considerado elevado e motivado, sobretudo, pelas licenças para tratamento de saúde superiores a 15 dias. O déficit mensal de pessoal contribuiu também para a sobrecarga do trabalho da equipe.

 

No contexto hospitalar, os profissionais de enfermagem merecem destaque, pois constituem o maior contingente de trabalhadores da área da saúde. A enfermagem é considerada uma profissão fatigante e tensa, em decorrência do contato com o sofrimento e com a morte, das jornadas de plantão, da aceleração dos ritmos de trabalho, da polivalência do profissional e do esforço musculoesquelético para a realização do cuidado, entre outros13. Devido a estes fatores, conhecer os fatores relacionados ao absenteísmo faz-se necessário para que se proponham mudanças efetivas na política de gestão de pessoal e nos processos de trabalho, bem como na promoção da saúde e segurança dos colaboradores, aumentando sua satisfação no trabalho e seu compromisso com a instituição.

Estudos7-9 apontam que a equipe de enfermagem é formada, em sua maioria, por mulheres. Marques et al7 descreve uma forte predominância do sexo feminino nos índices de absenteísmo (92,9%). Os estudos de Montovani et al8 e Bargas e Monteiro9 corroboram com esta informação acrescentando que esse alto índice se justificam pela presença importante do sexo feminino na formação da equipe de enfermagem, bem como salientam que a maioria das mulheres inseridas no mercado de trabalho agrega diferentes papéis sociais e geralmente necessita conciliar atividades domésticas e cuidados com filhos e familiares, fato que pode provocar seu adoecimento, acarretando maior índice de ausências no trabalho.

Os dados do estudo de Marques et al7 demonstram que, independente do sexo, a maior frequência de afastamentos foi registrada na faixa etária de 41 a 50 anos (35,9%), seguida de 31 a 40 anos (30,3%). Constatou-se que 59,5% dos trabalhadores que apresentaram atestados tinham acima de 40 anos de idade. Em outro estudo8 a média de idade foi 43 anos. Investigação realizada no Canadá identificou que trabalhadores do sexo feminino com faixa etária mais elevada eram mais propensos a apresentar absenteísmo por doença15.

A categoria de profissionais com maior índice de absenteísmo foi a de técnicos e auxiliares de enfermagem. Marques et al7 aponta que os técnicos e auxiliares de enfermagem foram os profissionais que mais apresentaram atestados médicos, 81% do total de trabalhadores da equipe de enfermagem. Este dado é preocupante, pois esses profissionais representam o maior contingente da força de trabalho da equipe de enfermagem. A maior ocorrência de absenteísmo entre técnicos e auxiliares de enfermagem pode estar relacionada à menor remuneração, menor exigência de instrução técnico-científica e à maior necessidade de esforço físico na execução do cuidado ao paciente. Suas ausências comprometem a assistência prestada e, consequentemente, desestruturam a equipe por gerar sobrecarga de atividades aos demais trabalhadores. Outros estudos8-11 corroboram com estes resultados, justificando que os grupos mais qualificados, com formação superior, estão menos expostos às más condições de trabalho, ficando menos doentes e, assim, ausentando-se menos. Dado similar é relatado em estudo realizado no Estado do Rio de Janeiro, no qual os autores relataram que os enfermeiros tendiam a assumir papel de liderança na equipe, que exige maior assiduidade; apresentavam menor risco de contaminação e de doenças; e, também, assumiam tarefas administrativas12.

As principais doenças citadas nos estudos foram doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, doenças do aparelho respiratório, doenças infecciosas e parasitárias e transtornos mentais e comportamentais.

Estudo12 realizado no pronto socorro de um hospital universitário apontou que os problemas relacionados aos sistemas respiratório e osteomuscular figuram entre as principais causas de afastamento. Em grande parte das situações de urgência e emergência, os profissionais realizam técnicas de mobilização de pacientes dependentes, além de atuarem em número insuficiente e em área física exígua. As posturas corporais incorretas, o excesso de atividades, a longa permanência em pé e a inadequação do mobiliário são apontados como fatores de risco ergonômico, fadiga e danos à saúde.

Encontrou-se predomínio de doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo entre os técnicos e auxiliares de enfermagem. Esse tipo de doença é frequente no cotidiano dos profissionais de enfermagem, devido ao risco ergonômico a que os mesmos estão expostos no trabalho. Ao encontro disto, o decênio entre 2000 e 2010 foi designado como a década do osso e da articulação, visto que as doenças e lesões osteoarticulares incidem na população e se constituem em uma das causas mais frequentes de absenteísmo laboral e invalidez permanente15. Complementando esses achados, em um estudo grego realizado com 350 profissionais de enfermagem, 51% referiram dor na coluna lombar e 23% queixaram-se de dores nos joelhos, ambas atribuídas ao esforço físico na realização do trabalho16.

Outro estudo10 também aponta as doenças citadas anteriormente como as principais causas de atestado, acrescentando outras patologias: 13,4% decorrentes de doenças do aparelho respiratório; 12,2% de doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo; 11% de doenças infecciosas e parasitárias; 11% de sinais, sintomas e achados anormais não classificados; 9.3% de doenças do aparelho geniturinário; 8,1% decorrentes de gravidez, parto e puerpério; 5,8% de doenças olhos e anexos; e 5,2% de causas externas.

No estudo de Marques et al7, a segunda doença apresentada como responsável pelo afastamento dos trabalhadores foram os transtornos mentais e comportamentais (TMC) com 284 (18,04%) dos casos. Destacaram-se os episódios depressivos, transtornos bipolares e estresse.

Estudo11 realizado para se identificar as causas do afastamento por transtorno mental identificou que as três principais causas foram devido aos episódios depressivos com 784 afastamentos; ao transtorno afetivo bipolar com 331 profissionais afastados; e ao transtorno depressivo recorrente, responsável por 175 afastamentos. Entretanto não existem diferenças estatísticas entre as principais causas desses afastamentos quando se compara aos diferentes profissionais de enfermagem. O transtorno afetivo bipolar foi a etiologia que por mais tempo afastou os enfermeiros das suas funções (40,62 dias), enquanto o transtorno depressivo recorrente foi a condição que por mais tempo afastou os auxiliares e técnicos em enfermagem (40,47 dias e 54,33 dias, respectivamente). Quanto à gravidade dos afastamentos, o transtorno afetivo bipolar teve o máximo de 365 dias de afastamento; nos episódios depressivos, os afastamentos duraram até 244 dias; o transtorno depressivo recorrente, 208 dias; e as reações ao stress grave e transtornos de adaptação representaram afastamentos de até 100 dias.

Quanto ao tempo de afastamento, Montovani et al8 em sua pesquisa aponta que houve predomínio de atestados de curta duração, inferior ou igual a 15 dias de afastamento, nas três categorias profissionais, o que dificulta o processo de trabalho da equipe de enfermagem, visto que nessas situações não ocorre contratação de profissional, sobrecarregando a equipe com maior demanda de trabalho. Nos atestados de longa duração, superior a 15 dias de afastamento, o profissional é remunerado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e a unidade recebe um funcionário contratado para cobertura da licença. Esse resultado também é encontrado no estudo de Formenton, Mininel e Laus10 e Fakih, Tanaka, Carmagnani12.

 

CONCLUSÃO

Os achados neste estudo fundamentam a perspectiva do absenteísmo com determinantes multifatoriais e complexos, que precisam ser analisados para que seja possível construir um ambiente de trabalho de saúde e bem-estar dos trabalhadores de enfermagem.

Dentre os achados, foi possível identificar que o sexo feminino é o mais predominante na equipe de enfermagem, apresentando assim, a maior taxa de abstinência. A categoria profissional que apresentou um maior número de faltas foi a de técnicos e auxiliares de enfermagem. As principais doenças citadas nos estudos foram doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, doenças do aparelho respiratório, doenças infecciosas e parasitárias e transtornos mentais e comportamentais.

Essas informações possibilitam um maior conhecimento para melhorar a organização hospitalar, inclusive para o dimensionamento do pessoal de enfermagem, de modo a reduzir ao máximo os efeitos negativos das ausências sobre os trabalhadores.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido: 20 novembro 2017. Publicado: 04 dezembro 2017

Correspondência: Viviane Santos Mendes Carneiro. E-mail: vsm.mendes@gmail.com

Conflito de Interesses: os autores declararam não haver conflito de interesses.

 

 

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