Rev. Adm. Saúde Vol. 17, Nº 66, Jan. – Mar. 2017
EDITORIAL
Na década de 1970 a Organização Pan-Americana da Saúde propôs como
estratégia para melhoria do setor hospitalar nas Américas que os países
desenvolvessem programas de formação de recursos humanos para a área conjugando
esforços dos melhores hospitais da região com as melhores escolas de
administração de empresas. A racionalidade por trás desta estratégia era que
juntando estes recursos se cobririam as necessidades de treinamento dos quadros
para administrar os hospitais latino-americanos e se esperava, por extensão,
também os sistemas de saúde onde estes hospitais estavam inseridos. Em alguns
países esta estratégia chegou a funcionar bem, enquanto que em outros não
chegou nem a passar da fase de projeto. No Brasil, o PROAHSA em São Paulo,
criado dentro desta proposta, continua até hoje formando quadros para o sistema
de saúde brasileiro tendo-o feito por meio de diferentes atividades que já
qualificaram mais de 5 mil pessoas espalhadas pelo país afora. O PROAHSA é o
Programa Avançado de Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde mantido pelo
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e
pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas.
No Brasil sempre se estabeleceu uma dicotomia entre o que se chama
de medicina preventiva, social, comunitária, “sanitarismo” ou saúde pública e o
que representa administração ou gestão dos serviços de saúde. Já seja por
interesses de reserva de mercado de trabalho; por razões ideológicas; ou por
pura incompreensão do que seja gestão de serviços de saúde, sempre pairou no ar
uma desconfiança de que “administrar” era um verbo inadequado para ser
conjugado relativamente à saúde. Dizia-se que administrar era algo relacionado
com empresas privadas que não tinham nada a ver com saúde. Que não se podia
pensar em eficiência quando se falava em saúde porque esta era um bem maior que
não podia ser quantificado em termos de dinheiro, produtividade ou
racionalidade. Todos os recursos deveriam sempre estar disponíveis para a saúde
“porque saúde não tem preço!”
Hoje sabemos muito bem que a saúde de um indivíduo não tem preço,
mas pode custar muito caro e que os recursos, individuais ou coletivos, são
sempre escassos para fazer frente às despesas que a recuperação desta saúde
possa requerer. Portanto, é preciso que os agentes envolvidos nesta equação, de
fornecer saúde ao indivíduo ou ao grupo de indivíduos, tenham bem presente a
importância de preocupar- se com os custos deste fornecimento, para que ele
possa ser estendido ao maior número possível de pessoas que dele necessitem. E
que quando se fala em medicina preventiva, social, comunitária ou saúde pública
se esteja falando também em aperfeiçoar o uso dos recursos escassos disponíveis
para a saúde, de modo que um número maior de pessoas tenha acesso aos serviços
de maneira equitativa, integral e universal para fazer frente aos agravos de
maior parte da população. E que, portanto, se está falando de administrar bem
os recursos disponíveis de maneira que eles sejam usados eficiente, eficaz e efetivamente.
Que a função do gestor neste contexto (seja ele chamado de administrador de
saúde, sanitarista, “preventivista”, médico social ou comunitário) é fazer com
que os recursos que lhe forem colocados à disposição deem o maior retorno
possível em termos de benefícios à saúde da população. A isto
se chama: administrar.
As faculdades de saúde pública das universidades mais importantes
do mundo há muito já se convenceram destas verdades e passaram a incorporar em
seus currículos conteúdos de disciplinas que preparam seus alunos para fazer
frente aos desafios que a moderna gestão dos serviços de saúde impõe. Estes
desafios demandam gestores que saibam enfrentar questões ligadas à: liderança
organizacional; estatística; epidemiologia; sociologia; antropologia;
demografia; mercadologia; contabilidade e finanças; planejamento estratégico e
operativo; gestão de pessoas; gestão de processos e outras. Questões que estão
relacionadas com a gestão de recursos humanos, financeiros, materiais e
organizacionais que serão colocados nas mãos dos gestores e que estes deverão
saber o que fazer com eles; ter uma proposta gerencial concreta (e não apenas reacional)
quanto ao uso destes recursos e prestar contas de suas ações a quem de direito
público ou privado. Ter um modelo de gestão e saber executá-lo. Não há
escapatória; estes são os fatos puros e simples como estão colocados sobre a
mesa da realidade. O futuro dirá quem fez sua lição de casa e quem não a fez;
não haverá como fugir do julgamento da história cuja retrospectiva costuma ser
implacável.
Isto não significa, entretanto, que o papel do gestor ou
administrador está limitado pelos muros da instituição ou do hospital em que
trabalha. A sua ação junto à comunidade, com as comissões de saúde, com os
grupos que reivindicam mais recursos para o setor, nas Associações
Profissionais e de classe, é parte indissociável de seu trabalho.
Assim, com a transformação da Sociedade Médica Brasileira de
Administração em Saúde (fundada em 27/11/76) na Associação Brasileira de
Medicina Preventiva e Administração em Saúde (ABRAMPAS), o que se pretende é
exatamente sinalizar a necessidade desta aproximação de conteúdos e
integralização do conhecimento para fazer frente aos desafios da saúde no
Brasil. Espera-se que a junção simbólica dos dois conceitos no nome da ABRAMPAS
sinalize aos observadores a necessidade do entendimento desta dimensão
abrangente da administração em saúde. Ela pretende contribuir com o setor saúde
mediante a disseminação destes conceitos, muito mais do que, necessariamente,
congregar os gestores de saúde do país e a sua mensagem é no sentido de
estimular a reflexão sobre as reais necessidades e prioridades na área da saúde.
A ABRAMPAS, conforme seu estatuto, propõe-se a promover o desenvolvimento da
Medicina Preventiva e da Administração em Saúde, além do intercâmbio
científico, cultural e social entre os profissionais médicos que atuam nestas
áreas em todo o território nacional. Além destas finalidades genéricas a
Associação também se propõe a:
Recebido em: 28/11/2016
Aceito e publicado em: 30/11/2016
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