Percepção
da equipe de
enfermagem sobre fatores
causais de quase-falhas (near miss)
no atraso de medicamentos através da Análise
do Tipo e Efeito de Falha (Failure Mode and
Effects Analysis) –
FMEA
Perception of the
nursing team about causes of near miss in the medicament delay using Failure Mode and Effects Analysis- FMEA
Sylvia
Lemos Hinrichsen1,
Kaline Assis Carneiro Brayner2, Silvio Luis Lira
Paixão2,
Tatiana
de Aguiar Santos
Vilella3, Marcela Coelho Lemos4,
Ewerton Douglas da Silva5
Trabalho
realizado no Núcleo de Ensino, Pesquisa e
Assistência em Infectologia da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Disciplina de
Biossegurança e
Controle de Infecções Risco Sanitário
Hospitalar- Recife (PE), Brasil.
1.Médica
Infectologista; Coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e
Assistência em
Infectologia da UFPE; Professora
Titular do Departamento de Medicina Tropical da UFPE-
Recife (PE), Brasil.
2.
Enfermeiro; Assistente
de pesquisas
do Núcleo
de Ensino,
Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE-
Recife (PE), Brasil.
3.
Farmacêutica;
Biomédica; Assistente
de pesquisas
do Núcleo
de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE-
Recife (PE),
Brasil.
4.
Aluna do curso de
graduação de Biomedicina da UFPE; Assistente
de pesquisas
do Núcleo
de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE-
Recife (PE),
Brasil.
5.Aluno do curso de Educação Física da
Uninassau; Assistente
de pesquisas
do Núcleo
de Ensino,
Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE-
Recife (PE), Brasil.
Endereço
para
correspondência:
Sylvia Lemos Hinrichsen – Rua
Jornalista
Guerra de Holanda, 158/2601 –. Casa Forte – CEP:
52061-010 – Recife (PE),
Brasil – E-mail:
sylviahinrichsen@hotmail.com
Fonte
de financiamento: não se aplica
Conflito
de interesse: não existe conflito de interesse
Recebido em: 02/10/2016
Aprovado
e publicado: 21/11/2016
RESUMO
Palavras-chave: FMEA;
erros de medicamentos; quase-falha (near miss);
prontuário eletrônico.
ABSTRACT
Nursing is responsible for the final stages of
the drug delivery process
and can identify events avoiding them with goals to administer
medication
correctly. To this we must identify the types of events that could lead
to
near-failures (near miss) as well as the risk factors in the occurrence
of
these, which may end with errors. The aim of this study was to identify
the causal
factors of events (near miss) in the cycle of medications .It is a
quantitative, descriptive, observational, exploratory study, conducted
by the
nursing service and patient safety department of a tertiary hospital,
with high
complexity, located in Recife, Brazil, who monitored non-conformities
in the
use of medication from patient electronic prescription. There were
observed
5,037 non-conformities in the medicine cycle, from electronic
prescribing with
manual permissions in medical records related to the delay of medicine,
according to the perception of nursing. In relation to data obtained by
the
FMEA (Failure Mode and Effects Analysis)
of non-compliances identified, related to the delay of medication, was
considered unacceptable manual prescribing practice in electronic
prescription.
It will be necessary the implementation of policies and strategies for
medicine
prescription improvement to increase the safety of the medicine cycle,
especially in the delay of these, which can cause near-failures (near
miss) in
the institutions that use manual records and mostly electronic. The
strategies
will be consistent only when there medicine prescribing safety culture
and
quality of care provided to their customers and patients.
Key words: FMEA; medication errors;
near-failures(near-miss); electronic medical
records
INTRODUÇÃO
A administração medicamentosa numa
instituição de saúde é um
processo bastante complexo e de caráter multidisciplinar,
com objetivos
comuns de prestar assistência de qualidade, com
segurança e eficácia ao
cliente/paciente1-6.
No entendimento do conceito de um evento adverso, é
importante
saber que: 1-reação adversa é definida
como qualquer injúria devido à
medicação
em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia,
diagnóstico ou
tratamento de uma enfermidade;2- erro de
medicação é definido como uma falha no
processo de medicação, podendo ser na
prescrição, dispensação,
preparo,
administração e monitoramento; 3-erros potenciais
(quase-falhas/ near miss)
são eventos ocorridos, porém
não causaram algum dano ao paciente, pois o erro foi
interceptado antes de
prejudicar o cliente/paciente ou a dose foi administrada e
não causou nenhuma
injúria2,7- 9.
A National Coordinating Council for Medication Error
Reporting
and Prevention, define erro
de medicação como qualquer evento
evitável que, de fato ou potencialmente,
conduz ao uso inadequado de medicamento2,8,9. E,
eventos adversos
são considerados como a ocorrência imprevista,
indesejável ou potencialmente
perigosa na instituição de saúde e
quase-falha (near miss) como
qualquer variação de um processo que
não afeta um
resultado, mas cuja recorrência acarreta grande chance de uma
consequência
adversa grave, enquadrando-se na definição de um
evento adverso2,4,9,10.
A American Society of Hospital Pharmacists
recomenda que
para evitar erros na medicação é
importante que haja: 1 - prescrição
eletrônica; 2 - utilização de
código de barras para medicamentos e
identificação do paciente; 3 -
dispensação por dose unitária; 4 -
preparação de
medicação intravenosa pela farmácia; 5
- notificação de eventos adversos; 6 -
interação multidisciplinar (farmácia,
médicos e enfermeiros) e 7 - revisão da
prescrição por farmacêuticos7,
9,11,12.
Sabe-se que a enfermagem é responsável pelas
últimas etapas, o preparo
e a administração de medicamentos, mas que ela
pode detectar alguma falha e
parar todo processo, embora isso muitas vezes não
aconteça, sendo normalmente
colocada a culpa do evento à enfermagem, o que aumenta
bastante a sua
responsabilidade3,10.
Os
erros e ou quase-falhas (near
miss) nem sempre são por falha humana, mas podem
ser decorrentes da falta
de processos sistematizados pela instituição de
saúde/hospital. E, de um modo
geral, nem sempre são relatados devido ao medo que traz aos
profissionais envolvidos
de equipes multidisciplinares, consequentes às medidas
administrativas, que vão
desde punições verbais, escritas,
demissões, processos civis, legais e éticos1,4,5,9,
10,13.
Na maioria das vezes, o erro ou uma quase-falha (near
miss) de medicação só
é
identificado quando o paciente apresenta alguma
manifestação clínica após a
administração, ou algum dano foi percebido ao
cliente ou quando houve atrasos
na prescrição. Desta maneira, nem sempre
serão visualizadas não conformidades
técnicas, assim como outros fatores1,5,9, 13-16.
Neste
sentido, o presente estudo foi programado para realizar uma
análise do processo de administração
medicamentosa ao paciente, relacionado a
atrasos de medicamentos, na percepção da
enfermagem, a fim de oferecer
evidências para a prevenção de eventos
e ou não conformidades, garantindo a
implementação de processos sistematizados,
focados na segurança do paciente.
METODOLOGIA
Realizou-se
uma abordagem quantitativa, descritiva, observacional
e exploratória, no
período de abril a
junho de 2016, nas unidades assistenciais de um hospital privado,
terciário, de
alta complexidade, localizado em Recife, com 158 leitos, sendo 38 de
terapia
intensiva (adulto, coronária, neonatal e
pediátrica), com uma taxa média de
ocupação de 72%, e, que desde 2012 utiliza o
modelo de prescrição eletrônica
com permissão de registros manuais, em todas as suas
unidades.
O
estudo foi desenvolvido no período de abril a junho de 2016
através dos resultados obtidos pela equipe de enfermagem e
riscos, que
implementam ações multidisciplinares para: 1 -
identificar as ferramentas da
implantação da cultura da qualidade e
segurança do paciente; 2 - definir os
componentes de uma comissão multidisciplinar de
gerenciamento de riscos/
qualidade; 3 - identificar os resultados/ indicadores de
gestão a partir do
diagrama (escopo) da gestão de risco (clínico e
não clínico) e padrões de
qualidade assistenciais a serem monitorados; e, 4 - realiza estudos de
coortes,
retrospectivos e prospectivos do tipo descritivo e observacional dos
riscos e
ou infecções identificados e ou potencialmente
existentes na instituição9,15,16.
As
informações obtidas estavam contidas nos
registros de
investigação, a partir de
notificações de não conformidades
observadas no
processo assistencial, monitorado pelas equipes de enfermagem e do
núcleo de
segurança do paciente da instituição,
com objetivo de identificar o ciclo do
medicamento a partir de dados relacionados a atrasos dos medicamentos,
através
de buscas ativas e passivas de não conformidades de
prescrição do paciente, e
considerado pela instituição como quase-falha (near miss).
Utilizaram-se
como definições: 1 - evento adverso:
ocorrência
imprevista, indesejável ou potencialmente perigosa na
instituição de saúde; 2 -
evento sentinela: ocorrência inesperada que implique em morte
ou perda grave e
permanente de função; 3 - erro de
medicação: qualquer evento evitável
que possa
levar a um uso inadequado de um medicamento ou que ponha em risco a
segurança
do paciente, com potencialidade de ser um evento sentinela; 4
– quase-falha (near miss):
qualquer variação de um
processo que não afeta um resultado, mas cuja
recorrência acarreta grande
chance de uma consequência adversa grave, enquadrando-se na
definição de um
evento adverso9,15,16.
Os
dados estudados foram os relacionados a um período de
três
meses (maio a junho de 2016). As não conformidades de
atrasos de medicamentos
foram identificadas e selecionadas qualitativamente e
quantitativamente,
segundo variáveis pré-determinadas associadas ao
ciclo da prescrição eletrônica
do paciente, que foram observadas como as não conformidades
mais usuais na
instituição: 1 -
prescrições manuais (acrescidas
pelo prescritor ao impresso eletrônico); 2 -
acréscimos manuais (inseridos
pelo prescritor no impresso
eletrônico); 3 - prescrições vencidas
(fora do prazo de 24 horas, quando
deveriam ter sido substituídas pelo prescritor); 4 -
prescrição não padrão (em
formulário não institucional, pessoal do
prescritor); 5 -
prescrição não checada
(equipe
de enfermagem não realizou aprazamentos).
Cada
índice foi avaliado separadamente,
atribuindo notas de acordo com a experiência dos envolvidos
no processo,
considerando o impacto que a falha acarretaria para a
próxima etapa e contando
com a ajuda de outros técnicos que atuam na mesma
área. Após a avaliação dos
índices, calculou-se o índice de risco pelo
registro do produto dos três
índices anteriores: gravidade, ocorrência e
detecção. Uma vez calculado,
obteve-se vários índices de riscos que foram
desenhados numa matriz de
tolerância. Os índices que apresentaram maiores
valores foram considerados como
problemas a serem priorizados e sobre os quais deveria ser estabelecido
um
plano de ação pelas equipes e
governança16,17.
RESULTADOS
Quadro
1.
Não
conformidades identificadas no ciclo do medicamento, segundo
quase-falha (near miss) relacionadas
a atrasos de
prescrição. Recife, 2016.
Não
conformidades identificadas |
Frequência
(n) |
Mês
de Abril |
|
Prescrições
manuais |
811 |
Acréscimos
manuais |
636 |
Prescrições
vencidas |
273 |
Prescrições
não padrão |
66 |
Prescrições
não checadas |
28 |
Total |
1814 |
Mês
de Maio |
|
Prescrição
manual |
826 |
Acréscimo
manual |
549 |
Prescrição
vencida* |
203 |
Prescrição
não padrão |
119 |
Prescrição
não checada |
17 |
Total |
1714 |
|
|
Prescrição
manual |
751 |
Acréscimo
manual |
478 |
Prescrição
vencida |
165 |
Prescrição
não padrão |
111 |
Prescrição
não checada |
04 |
Total
|
1509 |
(*)1-Prescrições
manuais (acrescidas pelo prescritor ao impresso
eletrônico); 2-acréscimos manuais (inseridos pelo
prescritor no impresso
eletrônico); 3-prescrições vencidas
(fora do prazo de 24 horas, quando deveriam
ter sido substituídas pelo prescritor por novas);
4-prescrição não padrão(em
formulário não institucional, pessoal do
prescritor); 5- prescrição não checada
(equipe de enfermagem não realizou aprazamentos).
FMEA |
|||||||
Gestão |
Eventos
Adversos |
Danos |
Gravidade
do Dano |
Probabilidade |
Estimar
Risco |
Risco |
|
Quase
– Falha de medicamentos Enfermagem
(Near-Miss) |
Prescrição
Manual |
Perda
de rastreabilidade pela farmácia |
3 |
2 |
6 |
Moderado |
|
Atraso
em administração de medicamentos |
3 |
3 |
9 |
Importante |
|||
Ilegibilidade |
3 |
4 |
12 |
Inaceitável |
|||
Administração
medicação errada |
4 |
2 |
8 |
Importante |
|||
Acréscimo
Manual |
Perda
rastreabilidade |
3 |
3 |
9 |
Importante |
||
|
Atraso
em administração de medicamentos |
3 |
3 |
9 |
Importante |
||
|
Ilegibilidade |
2 |
3 |
6 |
Moderado |
||
Gestão |
Eventos
Adversos |
Danos |
Gravidade
do Dano |
Probabilidade |
Estimar
Risco |
Risco |
|
Quase
– Falha de medicamentos Enfermagem
(Near-Miss) |
Prescrição
Vencida |
Administração
medicação desnecessária |
2 |
2 |
4 |
Moderado |
|
Administração
de medicação por superdosagem ou não
administração da medicação |
3 |
3 |
9 |
Importante |
|||
Prescrição
Não Padrão |
Perda
de rastreabilidade |
3 |
2 |
6 |
Moderado |
||
Prescrição
Não Checada |
Administração
com superdosagem |
3 |
3 |
9 |
Importante |
||
|
|
|
|
|
|
||
**Importante
= Atraso, Administração errada, perda de
rastreabilidade, Administração
superdosagem.
Figura
1. FMEA.
Análise do Tipo e Efeito de Falha. Matriz de
Tolerância de
Riscos. Atrasos de Medicamentos. Recife, 2016.
DISCUSSÃO
Os
erros de medicação ainda são um
problema mundial de saúde pública, sendo os
mais graves os relacionados aos de prescrição1-8,
10-13,18.
Ainda
há a necessidade da padronização no
processo de prescrição e a
eliminação das
feitas à mão, e várias são
as alternativas visando diminuir erros e ou
quase-falhas (near miss) de
prescrições18.
Na
tentativa de minimizar erros de
prescrição, as
recomendações com maior evidência
científica para a prevenção de erros e
ou quase-falhas (near miss)
de medicação em hospitais
são: 1 - adoção da
prescrição eletrônica com o devido
suporte clínico; 2 - inclusão
de farmacêuticos nas visitas
clínicas; 3 - viabilização de contato
com farmacêuticos durante 24 horas para
solucionar dúvidas em relação a
medicamentos;
e 4 - presença de procedimentos especiais e
protocolos escritos para o
uso de medicamentos potencialmente perigosos19.
A
implantação da prescrição
eletrônica pode ter forte impacto nos erros de
prescrição, devendo ser buscada na
instituição, tem um alto custo de
implantação, além de trazer
dificuldades na sua aceitabilidade por parte dos
prescritores, por hábitos, culturas e ou agendas, que
dificultam a sua
utilização como esperado19, 20.
Entre
os vários aspectos existentes na literatura para prevenir ou
reduzir os erros
na medicação está a tecnologia de
informação. E, muitas têm sido as
estratégias
utilizadas para minimizar potenciais falhas e ou erros no ciclo do
medicamento,
como o uso do código de barras nas embalagens dos
medicamentos e a prescrição
médica eletrônica19-22.
A
prescrição médica eletrônica
tem sido objeto de estudos, por ser aquela onde o
médico (ou o transcritor), em vez de escrever manualmente a
prescrição numa
folha, utiliza um computador para digitá-la seguindo um
modelo já estabelecido22-24.
Espera-se
que a prescrição eletrônica possa
reduzir a quantidade de erros, falhas
potenciais, uma vez que elimina a dificuldade na leitura e no
entendimento
ocasionado pela letra ilegível do médico e
possibilita que os erros de
digitação sejam corrigidos no momento da
elaboração da prescrição
sem que, para
isto, haja rasuras ou rabiscos que dificultam ainda mais o entendimento
das informações(22-24).
Observou-se
no presente estudo, que a instituição/ hospital
adota o sistema de prescrição
eletrônica há quatro anos, mas os seus
usuários prescritores continuam
utilizando recursos de escritas manuais no impresso
eletrônico gerado como
prescrição.
Também
não há uma agenda que permita a
prescrição dentro do prazo de 24 horas, o que
leva a atrasos de medicamentos, uma vez que o prescritor não
realizou uma nova
prescrição, dificultando o entendimento da
enfermagem nos novos aprazamentos,
que são diários enquanto o paciente
está internado no hospital. Por parte da
enfermagem, também existe uma falha nos aprazamentos, o que
leva a não checagem
da prescrição, mas que propicia atrasos, que
podem levar a erros de medicação.
Há também uma resistência no uso da
prescrição eletrônica por parte dos
prescritores, que trazem formulários impressos, pessoais,
com a prescrição do
paciente, que não é reconhecida como da
instituição/ hospital, uma vez que o
processo adotado é eletrônico.
Essas
não conformidades talvez sejam consequência ao
fato da instituição adotar um
sistema de prescrição eletrônica que
ainda permite que o médico faça registros
manuais, principalmente naqueles casos de mudança da
condição do paciente,
suspensão de medicamentos ou inserção
de novos medicamentos, e ou quando há
médicos resistentes às ferramentas de tecnologia
da informação. Também há o
fato de que a enfermagem realiza o registro do medicamento administrado
na
própria folha impressa da prescrição e
uma nova folha com outros medicamentos e
ou suspensão dos atuais no mesmo dia poderia ser um fator a
mais na ocorrência
de erros, especialmente quase-falhas (near
miss) relacionados ao atraso de medicamentos. Além
do que, os auxiliares de
enfermagem podem ter ainda a prática de seguir a uma
cópia da prescrição
emitida pela farmácia com os medicamentos dispensados e
não seguir a que se
encontra no prontuário do paciente, só a
utilizando para registrar a
administração no final do turno.
Um
outro fator a ser considerado é que o registro da
administração dos
medicamentos é realizado
na própria
prescrição, e, quando
o profissional
pretende suspendê-lo e ou
acrescentá-lo
na folha, o faz manualmente para não ter que elaborar e ou
imprimir uma nova
prescrição, prática que pode levar a
quase-falhas (near miss) /erros.
Sabe-se
que a implantação de Prontuário
Eletrônico de Paciente não é uma tarefa
fácil e de imediato uso adequado. Como
tudo que gera mudanças, especialmente hábitos, o
processo de implantação do uso
de tecnologias não é um processo fácil
e bem absorvido pelos seus usuários, que
apresentam resistências o que leva ao insucesso21-27.
Num
estudo sobre o conhecimento das
experiências relacionadas à
implantação de prontuário
eletrônico, observou-se
como vantagens de um sistema informatizado de registros: o
acesso rápido ao histórico do paciente; a
facilidade na
consulta de dados em atendimentos futuros; a
redução no tempo de atendimento; a
melhoria no controle e planejamento hospitalar e a melhoria na
qualidade do
atendimento. Por outro lado, como desvantagem citada por mais de 50%
dos
estudos selecionados foi a resistência dos profissionais da
saúde quanto ao uso
de novas tecnologias, o que se deve, normalmente, à falta de
domínio de
informática dos usuários. Fato este que sugere
que o sucesso ou fracasso na
implantação de um sistema de
prontuários eletrônico está
condicionado,
diretamente, ao treinamento intenso e adequado da equipe e à
sua participação
nas diversas etapas que precedem a implantação do
sistema e à familiaridade dos
usuários com o sistema implantado27.
Não
há como negar os
avanços tecnológicos, em particular, o sistema
computadorizado da prescrição da
medicação como estratégia de
redução da
frequência de não conformidades/ erros no ciclo do
medicamento/prescrição21-27.
Mas, deve-se estar atento para a ocorrência de
alterações na prescrição
eletrônica, que acabam sendo realizadas de forma manual,
especialmente em
situações de emergências onde o
médico precisaria acessar o sistema para
prescrever um medicamento de necessidade imediata, e isso levaria mais
tempo em
detrimento da prescrição manual.
Também é importante lembrar que não
existe um
número de computadores disponíveis ideal nas
instituições, não só pelo
custo,
mas também pelas dificuldades de espaços nas
áreas de internação, além da dificuldade de acrescentar
novas informações
ao sistema quando necessárias, assim como a da
inserção, manualmente, dos
horários da administração do
medicamento21-27.
Na
formulação do FMEA realizada, a matriz de
tolerância facilitou as atualizações
e a visualização do status
do risco
relacionados às não conformidades identificadas
de quase-falhas (near miss). A
metodologia também
mostrou-se de fácil utilização,
permitindo identificar no processo analisado os
pontos críticos e passíveis de
monitoração por meio de indicadores relacionados
às metas de segurança do paciente, assim como
listar possíveis planos de ações
de melhorias, com bases técnicas.
Através
da matriz de tolerância do FMEA fica mais fácil
implementar planos de ações
específicos,
para que a Instituição
que
adota um sistema de prescrição
eletrônica ainda não informatizado, possa
visualizar suas vulnerabilidades, e assim criar políticas e
processos que
melhorem os riscos existentes que levam a potenciais eventos/ erros no
ciclo da
medicação. Também permite que sejam
criados gatilhos preventivos que impeçam
possíveis não conformidades relacionadas ao ciclo
do medicamento. Todas as
medidas sugeridas a partir da matriz de tolerância do FMEA de
atraso de
medicamento, na prática, não são
fáceis de serem modificados e sistematizados,
pela complexidade, custos e resistências por serem
consideradas pelas equipes
multidisciplinares como ações
“burocráticas”. Mas poderão
nortear às equipes
naquilo que pode ser melhorado e implantado para evitar as
não conformidades
existentes que levam dia a dia à quase-falhas (near
miss) de atraso de medicamentos.
Assim,
observa-se também a necessidade
de que sejam incluídas as oportunidades de melhorarias
no sistema de prescrição eletrônica,
quando este utilizado pela instituição de
saúde/ hospital que contemplem: 1 -
revisão das prescrições
para evitar repetição; 2 -
preenchimento de receituários no sistema; 3 -
maior atenção do profissional ao prescrever; 4 - simplificação
do programa; 5 - maior número
de computadores , impressoras e
manutenção destes; 6 -
requisição informatizada de
quimioterápicos e
psicotrópicos, sem permitir a inclusão manual na
prescrição eletrônica, entre
outros.
É
importante saber que a introdução da
prescrição eletrônica ainda
é algo novo na
maioria das instituições de saúde/
hospitais do Brasil, e até mesmo em países
com reconhecido desenvolvimento tecnológico, e por essa
razão a sua implantação
deve ter avaliações periódicas para
que o sistema seja aperfeiçoado.
Há,
entretanto, um futuro desenhado para o sistema de
medicações nos hospitais onde
o médico escreverá suas ordens em
prescrições eletrônicas e
receberá
informações, via computador, sobre problemas como
alergias e apoio à sua
decisão na escolha do melhor tratamento. As
prescrições serão enviadas
eletronicamente pela farmácia e os farmacêuticos
terão um papel de orientação
clínica, a enfermagem terá máquinas
para a dispensação de medicamentos e
códigos de barra determinarão as doses
administradas a quem, por quem e quando25,26.
Todos
os aspectos aqui mencionados revelam a importância do estudo
dessa temática e
intervenções a partir de novas abordagens
relacionadas, embora a tecnologia
esteja sendo desenvolvida para auxiliar os profissionais a prevenirem o
erro, é
ainda o fator humano que está nas duas pontas do sistema
entre o paciente e o
profissional. Também é notada a multiplicidade de
aspectos envolvidos na
administração de medicamentos, quando
não há mais lugar para ambientes
punitivos diante de erros, uma vez que o que se busca é
análise destes e suas
prevenções.
A
instituição do sistema de
prescrição eletrônica e a parceria dos
médicos na
adequada utilização do mesmo representa um
avanço na busca de estratégias para
prevenção dos erros, e o envio dos dados
diretamente à farmácia e a revisão
dessa prescrição por um farmacêutico
é outro aspecto a ser considerado.
Como
aperfeiçoamento do sistema de
prescrição eletrônica e com a
educação por parte
daqueles que prescrevem, as instituições
deverão tornar as prescrições mais
detalhadas, informativas, corretas e fáceis de serem
compreendidas pelos
profissionais que as manuseiam, já que este é um
grande avanço nas estratégias
para redução de eventos potenciais/ erros.
Lembrando que a segurança do
paciente e a melhoria da qualidade do serviço de
saúde são metas que os
profissionais têm e assim acredita-se que a
prescrição eletrônica sendo bem
utilizada pode contribuir no alcance dessas metas, evitando falhas
potenciais (near miss) e ou erros
para os pacientes.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
É
fundamental que existam políticas de melhorias que aumentem
a segurança do
ciclo dos medicamentos, especialmente, no atraso destes, que podem
gerar
quase-falhas(near miss) nas
instituições que usam prontuário
manual e principalmente eletrônico. De acordo
com a matriz de tolerância das não conformidades
identificadas relacionadas a
atraso de medicamentos, o estudo mostrou que serão
necessárias medidas que
promovam: 1 -utilizar apenas
prescrição eletrônica na
instituição em 100% dos pacientes; 2 -
não permitir acréscimos/ registros
manuais às prescrições
eletrônicas; 3 - implantação de uma política
institucional para os prazos de
renovação da prescrição; 4
- estabelecimento de definições de bloqueio do
envio
de medicamentos quando prescrições
eletrônicas não estiverem conformes; 5 -
realização de processo educacional continuado
para as equipes de enfermagem, e
outras, quanto a checagem de medicamentos e 6 -
definição de uma política para
avaliação das equipes multidisciplinares em casos
reincidentes. Tais
estratégias somente estarão coerentes dentro de
um aspecto que privilegie a
cultura de segurança na medicação e a
melhoria da qualidade assistencial
prestada à sua clientela, pacientes.
DECLARAÇÃO
DE PARTICIPAÇÃO
Sylvia
Lemos Hinrichsen, Kaline
Assis Carneiro Brayner, Silvio Luis Lira Paixão, Marcela
Coelho Lemos e Ewerton Douglas da Silva
contribuíram
substancialmente para a concepção e planejamento
do projeto, obtenção de dados
ou análise e interpretação dos dados;
Sylvia
Lemos Hinrichsen e Tatiana de Aguiar Santos
Vilella
contribuíram
significativamente na elaboração do rascunho ou
na revisão crítica do conteúdo.
Sylvia
Lemos Hinrichsen e Tatiana de
Aguiar Santos Vilella
participaram da aprovação
da versão final do manuscrito.
REFERÊNCIAS
1.
Carvalho VT, Cassiani SHB, Chiericato C, Miasso AI. Erros mais
comuns e fatores de risco na administração de
medicamentos em unidades básicas
de saúde. Rev Latino-am Enfermagem 1999; 7(5): 67-76.
2.
Kawano DF, Pereira LRL, Ueta JM, Freitas O. Acidentes com
medicamentos: como minimizá-los? Rev Bras Cienc Farm 2006;
42(4): 487-95.
3.
Ministério da Saúde (BR). Programa do medicamento
hospitalar. Brasília:
Ministério da Saúde. Available from: <http://www.acss.min-saude.pt>
Acesso em 01/09/16
4.
Bohomol E, Ramos LH. Erro de medicação:
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