Rev.
Adm. Saúde Vol.
17, Nº 67,
Abr. – Jun. 2017
http://dx.doi.org/10.23973/ras.67.27
RELATO DE CASO
A evolução da
assistência à saúde dos imigrantes
japoneses no Brasil
The
evolution of health care for Japanese immigrants in Brazil
Milton M. Osaki ¹
1. Médico, administrador hospitalar
e de sistemas de saúde
RESUMO
A imigração japonesa para
o Brasil teve início em 1908, com a chegada
ao Porto de Santos de 781 imigrantes destinados ao trabalho em fazendas
de café
no interior do estado. Hoje, são cerca 1,5 milhão
de descendentes de japoneses distribuídos
pelo território brasileiro.
Desde 1926, a comunidade nipo-brasileira, com a
colaboração,
sobretudo, dos governos japonês e brasileiro, tem se
mobilizado no
desenvolvimento de instituições para
assistência médico-hospitalar e social dos
imigrantes e seus descendentes.
Destacam-se, em 90 anos de história,
o Dojinkai com a inauguração do
Sanatório São Francisco Xavier, Campos do
Jordão (SP), em 1936, e do Hospital
Santa Cruz, São Paulo (SP), em 1939; o Enkyo com a
inauguração do Hospital
Nipo-Brasileiro, São Paulo (SP), em 1988, e do Hospital
São Miguel Arcanjo, São
Miguel Arcanjo (SP), em 2013; a Cooperativa Agrícola de
Cotia e a inauguração
do Hospital SBC, São Paulo (SP), em 1997; e a
Beneficência Nipo-Brasileira da
Amazônia com construção do Hospital da
Amazônia, Belém (PA), em 1979 e do
Hospital da Amazônia de Quatro-Bocas,
Tomé-Açu (PA), em 1988.
Com o aumento numérico e
proporcional da população de idosos no Brasil
e na comunidade nipo-brasileira, estes serviços
médico-hospitalares e assistências
tem mudado seu perfil técnico, para se adequar às
emergentes necessidades da
terceira idade.
Destaca-se na também, no perfil
dessas instituições, a importância dos
serviços médico-hospitalares para a sociedade
brasileira em geral, já que os
indivíduos da comunidade nipo-brasileira respondem apenas
por menos de 15% dos atendimentos.
Palavras-chave:
Emigração e Imigração.
Grupos
Étnicos. Serviços de Saúde para
Idosos. Administração de Serviços de
Saúde.
Organizações em Saúde.
Organizações
não Governamentais
ABSTRACT
Japanese
immigration to Brazil began in 1908, with the arrival at the Port of
Santos of
781 immigrants destined to work on coffee farms in the interior of the
state of
São Paulo. Today, there are about 1.5 million descendants of
Japanese
distributed throughout the Brazilian territory.
Since
1926, the Japanese-Brazilian community, with the collaboration of the
Japanese
and Brazilian governments, has been mobilizing in the development of
institutions for the medical-hospital and social assistance of
immigrants and
their descendants.
The
Dojinkai, with Sanatório São Francisco Xavier,
Campos do Jordão (SP), in 1936,
and the Hospital Santa Cruz, São Paulo (SP), in 1939, stand
out in 90 years of
history; The Enkyo with the inauguration of the Hospital
Nipo-Brasileiro, São
Paulo (SP), in 1988, and the Hospital São Miguel Arcanjo,
São Miguel Arcanjo
(SP), in 2013; The Agricultural Cooperative of Cotia and the
inauguration of
the Hospital SBC, São Paulo (SP), in 1997; and the
Beneficência Nipo-Brasileira
da Amazônia with construction of the Hospital da
Amazônia, Belém (PA), in 1979,
and the Hospital da Amazônia de Quatro-Bocas,
Tomé-Açu (PA), in 1988.
With
the numerical and proportional increase of the elderly population in
Brazil and
in the Japanese-Brazilian community, these medical and hospital
services and
assistance have changed their technical profile to suit the needs of
the emerging
elderly population.
The
profile of these institutions also highlights the importance of medical
and
hospital services for Brazilian society in general, since individuals
in the Japanese-Brazilian
community account for only less than 15% of the visits.
Keywords:
Emigration and
Immigration. Ethnic Groups. Health Services for the Aged. Health
Services
Administration. Health Organizations. Non-Governmental Organizations
INTRODUÇÃO
A imigração japonesa no
Brasil teve inicio no século XX com a chegada
do navio Kasato Maru em Santos em 18 de junho de 1908. Do porto de Kobe
a
embarcação trouxe, numa viagem de 52 dias, os
primeiros 781 imigrantes
vinculados ao acordo estabelecido entre Brasil e Japão. Os
primeiros imigrantes
japoneses foram distribuídos em seis fazendas paulistas. Em
28 de junho de 1910
chegou a segunda leva de imigrantes com 906 trabalhadores.
Inicialmente, os imigrantes japoneses vieram
como trabalhadores
contratados para as fazendas de café no Estado de
São Paulo. Após três anos da
chegada dos primeiros imigrantes, em 1911, através do
Projeto de Colonização
Monções ocorre a primeira passagem dos imigrantes
japoneses de contratados para
proprietários de terra. Cinco famílias japonesas
adquiriram lotes junto à
estação Cerqueira César, da Estrada de
Ferro Sorocabana. No mês de março de 1912
ocorreu processo de assentamento de famílias de imigrantes
japoneses em terras
doadas pelo governo paulista na região de Iguape.
Em 1914 o número de trabalhadores
japoneses no Estado de São Paulo
atingia cerca de 10 mil pessoas. Em 1932, estimativa do Consulado Geral
do
Japão em São Paulo mostrou que os imigrantes
japoneses e descendentes eram
132.689 pessoas concentradas sobretudo na região da ferrovia
Noroeste. A
agricultura ainda era a principal atividade laboral concentrando 90%
desta
população. Após meio século
da chegada do navio Kasato Maru, em 1958 o número
de japoneses e seus descendentes foram estimados em 404.630 pessoas 1.
Em 1988, no 80º Aniversário
da Imigração, o Censo Demográfico da
Comunidade estimou que o número de nikkeis (termo usado para
denominar os
japoneses e seus descendentes) no país era de 1.228.000
pessoas. Atualmente, o
Brasil abriga cerca de 1,5 milhão de nikkeis 2.
O inicio da vida no Brasil foi um duro
período de adaptação para os
imigrantes japoneses. Um grupo vindo do Kasato Maru, contratado pela
Companhia
Agrícola Fazenda Dumont, não permaneceu ali por
mais que dois meses. As outras
fazendas contratantes também foram sendo gradativamente
abandonadas pelos
outros grupos de imigrantes. Em setembro de 1909, dos 781 imigrantes
vindos no
Kasato Maru restavam apenas 191 imigrantes nas fazendas que os
contratara.
Um dos problemas mais graves que os primeiros
imigrantes japoneses
enfrentaram, após a sua chegada ao Brasil, era a dificuldade
de assistência
médica e sanitária. Eles se depararam com
doenças incomuns no Japão como a
malária, febre amarela e outras doenças
tropicais. Encontraram ainda no meio
rural clima e condições de trabalho
difíceis. O desmatamento, processo
necessário para o inicio das atividades de agricultura
exigia grande esforço.
Além das condições e ambiente de
trabalho desfavorável os imigrantes
encontravam grande dificuldade de comunicação
pela diferença de língua.
DOJINKAI E
HOSPITAL SANTA CRUZ
Sensibilizado pelo drama dos primeiros
imigrantes em relação à
assistência médica e sanitária, o
Consulado Geral do Japão em São Paulo criou,
em 1926, a Sociedade Japonesa de Beneficência no Brasil, o
Dojinkai. Esta
entidade tinha como missão a
divulgação de orientações
de saúde através de
publicações. Para tanto, editou folhetos de
orientação sobre puericultura,
tratamento prático de doenças
pediátricas, esclarecimentos sobre animais
peçonhentos, higiene geral e materiais de
orientação para doenças como o
tracoma, febre tifoide e malária.
Uma providencial e importante
cooperação foi estabelecida entre o
Dojinkai e o Instituto Butantã no final da década
dos anos 20. Este acordo
envolvia a captura e envio pelos agricultores de cobras, aranhas e
escorpiões
para em troca receber soro antiofídico e vacinas contra tifo
e varíola. O
Dojinkai tinha ainda como missão a
instalação de postos avançados para
assistência social e de saúde pelo interior,
sobretudo no Estado de São
Paulo.
A percepção da
necessidade de atendimento médico-hospitalar fez com
que, em 1931, o então cônsul do Japão
em São Paulo, Iwataro Uchiyama criasse a
Associação Médica Japonesa. Esta
entidade, sensibilizada pelas dificuldades
encontradas pelos imigrantes japoneses, iniciou campanha para
construção de um
hospital, nascendo assim a Associação
Pró-Construção do Hospital
Japonês. Em
paralelo, o Dojinkai continuava suas atividades, instalando postos de
saúde em
Bauru e Lins em 1930 e em Presidente Prudente e Santos em 1932.
Em 18 de junho de 1933, após 25 anos
da chegada dos primeiros
imigrantes, foi lançada pedra fundamental para a
construção do atual prédio do
Hospital Santa Cruz na Vila Mariana. É dessa
época a mudança da
denominação do
Dojinkai para Sociedade de Beneficência Santa Cruz. Em 1934,
a campanha de
construção do hospital japonês ganha
novo fôlego, com a doação de 500 mil
ienes
pelo imperador Hiroito, realizada no dia de seu aniversário,
29 de abril. Ainda
em 1934, o governo japonês assume a
doação de 900 mil ienes, quantia que foi
dividida em três parcelas anuais.
Em 1936, a Sociedade de Beneficência
Santa Cruz inaugura o sanatório
para tuberculose em Campos de Jordão, posteriormente
recebendo o nome de
Sanatório São Francisco Xavier (Figura
1).
Esta obra foi considerada de grande vulto para as
condições da época.
Figura 1. Sanatório São Francisco
Xavier, na época de sua inauguração,
Campos
de Jordão (SP).
No dia 29 de abril de 1939, inaugurou-se o
Hospital Santa Cruz3
com 10 mil metros quadrados de área construída,
76 quartos e 200 leitos. O
edifício era composto de cinco andares e um subsolo. O
projeto foi do médico
Resende Puech, considerado profundo conhecedor de arquitetura
hospitalar.
O Hospital Santa Cruz passou a ser conhecido
como “hospital japonês”.
Pela instalação diferenciada, conseguiu atrair a
elite dos médicos da época.
Atuaram no Hospital Santa Cruz expoentes como os professores Benedito
Montenegro, Alípio Corrêa Neto, José
Maria de Freitas, Henrique Mélega, Antônio
Prudente, Euríclides de Jesus Zerbini, Anísio
Costa Toledo. Pelo lado nikkei
destacavam-se os médicos Shizuo Hosoe, Yoshinobu Takeda e
Sentaro Takaoka.
O inicio da II Grande Guerra em dezembro de
1941 fez o Brasil romper
relações diplomáticas com o
Japão. Uma das consequências foi o Hospital Santa
Cruz ser colocado sob controle do governo federal, sendo nomeado como
interventor o Dr. José Maria de Freitas.
Apesar da intervenção,
médicos como o Dr. Shiguenobu Takeda
continuaram a realizar procedimentos cirúrgicos e a atender
os pacientes
japoneses. A intervenção federal durou
até 1945. Apesar do seu término, a
comunidade nipo-brasileira não voltou a participar da
gestão do hospital até
1989.
Em 1989, decorrentes do movimento
cívico deflagrado por entidades
nikkeis e da compreensão do governo federal, principalmente
do presidente José
Sarney, dos ministros da Saúde, Seigo Tsuzuki, e da
Justiça, Saulo Ramos, a direção
do hospital retornou à comunidade nipo-brasileira
através de um acordo
político, com a efetivação de uma
administração compartilhada. Em 1990 a
entidade passou a se denominar Sociedade Brasileira e Japonesa de
Beneficência
Santa Cruz.
Com a direção
compartilhada o Hospital Santa Cruz apresentou forte
crescimento retornando ao protagonismo dentre os hospitais de destaque
na cidade
de São Paulo. Graças às
contribuições do governo brasileiro (federal,
estadual
e municipal), do governo japonês, das empresas e da
comunidade nipo-brasileira,
conjugadas com os esforços desenvolvidos pela
própria Instituição, conseguiu-se
realizar a reforma geral do seu conjunto hospitalar e importar
equipamentos
atualizados para atingir patamar tecnológico e assistencial
de destaque (Figura 2).
Figura 2. Fachada do Hospital Santa Cruz, no bairro de
Vila Mariana, São Paulo
(SP)
ENKYO E HOSPITAL
NIPO-BRASILEIRO
Fundada em 28 de janeiro de 1959, a
Associação de Assistência
aos Imigrantes Japoneses, teve como missão inicial auxiliar
os imigrantes
japoneses do pós-guerra. Em 1960, a entidade ampliou os
trabalhos oferecendo,
além de assistência social, apoio
médico através de consultório
médico em São
Paulo e assistência volante denominada Junkai. Em 1972, a
Associação de
Assistência aos Imigrantes Japoneses passa a denominar-se
Beneficência
Nipo-Brasileira de São Paulo 4, o
Enkyo.
Na década de 1970, a comunidade
nikkei não contava efetivamente com um
hospital que pudesse ser chamado de comunitário. O Hospital
Santa Cruz,
inaugurado em 1939, havia sofrido intervenção do
governo federal devido a
eclosão da II Grande Guerra e mesmo após a
retirada da intervenção não contava
com uma direção genuinamente nikkei.
As lideranças da comunidade
nipo-brasileira da época, atendendo pleitos,
movimentavam-se para retomar a ideia de um hospital da comunidade. Em
1983, Tadashi
Takenaka, industrial e líder comunitário foi
eleito presidente da comissão
Pró-Construção do Hospital
Nipo-Brasileiro 5.
A campanha para a
construção do novo hospital logo contou com
importante apoio. O governo japonês através da
JAMIC, órgão do governo japonês,
doou terreno no bairro do Parque Novo Mundo para a
construção do hospital.
Após cinco anos do inicio dos
trabalhos da comissão
Pró-Construção do
Hospital Nipo-Brasileiro, foi inaugurado o novo hospital em 18 de junho
de 1988
como parte das atividades comemorativas pelos 80 anos da
imigração japonesa no
Brasil. Inicialmente inaugurado com 30 leitos, o Hospital
Nipo-Brasileiro (HNB)
conta atualmente com 220 leitos e destaca-se como centro de
referência em
procedimentos minimamente invasivos (Figura
3). O HNB possui moderna estrutura de atendimento integrada,
dividida em
apartamentos e enfermaria. Seus setores de cuidados intensivos (UTI
geral, UTI
neonatal e UTI coronariana) são referências.
Figura 3. Fachada do Hospital Nipo-Brasileiro, no
bairro do Parque Novo Mundo,
São Paulo (SP).
No dia 10 de agosto de 2013, o Enkyo inaugurou
o Hospital São Miguel
Arcanjo, localizado no município de São
Miguel Arcanjo (SP), a cerca de
200 km de São Paulo. O novo hospital conta com 40 leitos,
três salas de cirurgia
e suporte de equipamentos de raios-X e ultrassonografia e atende
procedimentos
de média e baixa complexidade, nas especialidades de
clínica médica, clínica
cirúrgica, pediatria, ginecologia e obstetrícia.
Além dos hospitais citados, o Enkyo
também desenvolve importante
trabalho de assistência social a idosos mantendo as entidades
Casa de Repouso -
Santos Kosei Home, Recanto de Repouso Sakura Home, Casa de Repouso
Akebono,
Yassuragui Home, e Centro de Ação Social Enkyo -
Unidade Amami. O Projeto de
Integração Pró-Autista (PIPA) cuida de
doentes autistas.
O Enkyo tornou-se referência pelo seu
trabalho, não apenas na
comunidade nipo-brasileira, possuindo reconhecimento pela sociedade
brasileira
pela qualidade dos serviços prestados.
COOPERATIVA
AGRÍCOLA DE COTIA E HOSPITAL SBC
As cooperativas começaram a surgir
nos diferentes agrupamentos de
japoneses a partir do final das década de 20 e inicio dos
anos 30 graças ao
estimulo e subsídios que o Consulado Geral do
Japão em São Paulo passou a
oferecer para estruturação em moldes japoneses.
Em 11 de dezembro de 1927, foi
criada em Cotia a Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada
dos Produtores
de Batata em Cotia SA, mudando nome posteriormente para Cooperativa
Agrícola de
Cotia (CAC) 6.
A CAC iniciou com 83 membros e em 1937
já contava com 1303 cooperados
tornando-se logo a maior cooperativa agrícola do Brasil. Em
1952, ultrapassava
a marca de cinco mil cooperados e expandia-se para os estados vizinhos.
Para assistir seus cooperados e colaboradores,
a CAC implantou nos
anos 30 um ambulatório médico no bairro de
Pinheiros, em São Paulo (SP). A
evolução e o crescimento dos atendimentos
médicos fizeram surgir na década de
60 a Sociedade Beneficente Coopercotia (SBC).
A SBC contava com a ajuda do Fundo de
Assistência Técnica e Social da
CAC. Este fundo era responsável pela gestão da
assistência médico-hospitalar
aos cooperados.
Com o crescimento da demanda, ampliou-se a
estrutura física e
operacional da SBC. O sucesso do modelo fortaleceu dentro da SBC a
ideia de
mutualidade assistencial. A
maturação deste
ideal envolvia a futura construção de seu
hospital próprio.
Com o desaparecimento da CAC nos anos 90, a SBC constitui-se como empresa jurídica com o nome de Associação de Assistência Mútua à Saúde SBC. Em 1997, graças ao esforço e determinação dos associados da nova entidade, inaugurou-se uma estrutura hospitalar situada na Rua Blumenau, 320, bairro de Vila Leopoldina, São Paulo-SP, com 3.500 metros quadrados de área construída, denominado Hospital SBC (Figura 4). O Hospital SBC conta hoje com 40 leitos para internações clínicas e cirúrgicas, ambulatório com atendimento em 21 especialidades e serviços auxiliares de diagnóstico e terapia.
Figura 4. Fachada do Hospital SBC, no bairro da Vila
Leopoldina, São Paulo-SP.
Atualmente, a Associação
de Assistência Mútua à Saúde
SBC conta também
com operadora de plano de saúde, a SBC Saúde,
para prestar atendimento
médico-hospitalar aos associados que se encontram espalhados
por todo o país. Apesar
de a operadora contar com uma rede hospitalar credenciada de renomados
hospitais, significativo contingente de associados preferem os
procedimentos do
Hospital SBC, que atende cerca de 30% da demanda da operadora.
Credita-se esta
preferência à assistência diferenciada,
sobretudo aos pacientes nikkeis idosos que
são atendidos em língua japonesa.
BENEFICÊNCIA
NIPO-BRASILEIRA DA AMAZÔNIA E HOSPITAL AMAZÔNIA
Em 1929, desembarcaram do navio Manila Maru, no
porto de Belém, os
primeiros imigrantes japoneses na Amazônia, composto por 43
famílias e nove
solteiros. Este grupo seguiu para Tomé-Açu para
cultivar a pimenta-do-reino.
Fundada em 26 de janeiro de 1965, a
Associação de Assistência aos
Imigrantes Japoneses da Amazônia iniciou suas atividades com
a missão de apoiar
a saúde dos imigrantes japoneses radicados no Estado do
Pará.
O crescimento populacional dos descendentes
japoneses no Pará provocou
a necessidade de contar com assistência hospitalar
própria. Assim, em 1969, foi
iniciada a construção da primeira ala do Hospital
Amazônia em Belém, com a
participação de recursos do governo
japonês. Em 1974, a Associação de
Assistência aos Imigrantes Japoneses da Amazônia
passa a ser denominada
Beneficência Nipo-Brasileira da Amazônia (Benama) 7,
8. Ela mantem
atualmente o Hospital Amazônia, em Belém (PA), o
Hospital Amazônia de
Quatro-Bocas na localidade de mesmo nome, no município de
Tomé-Açu (PA) e o
Centro de Reabilitação Social em Ananindeua (PA).
O Hospital Amazônia foi
construído graças ao apoio da
comunidade nipo-brasileira do Pará e de entidades japonesas (Figura 5). A
construção da segunda ala
do Hospital Amazônia, concluída em 1979, contou
com importante ajuda da
instituição The Nippon
Senpaku Foundation.
A terceira e última ala do Hospital Amazônia teve
início em 2001 e foi
totalmente concluída em 2015, contando com o auxilio da
Mitsubishi Corporation.
É constituída de dois andares de
internação, com 23 leitos em cada andar, um
andar de unidade de terapia intensiva com 20 leitos, um andar de centro
cirúrgico
com oito salas de cirurgia e um andar de centro de material e
esterilização.
Figura 5.
Fachada do Hospital Amazônia, em Belém (PA).
O Hospital Amazônia de Quatro-Bocas
foi inaugurado em
1988 com colaboração da comunidade nikkei local e
conta com 30 leitos
(Figura
6). O Centro de Reabilitação
Social é uma casa de
repouso para idosos. Destaca-se pelo oferecimento de
alimentação com
balanceamento calórico da culinária japonesa.
Figura 6.
Fachada do Hospital Amazônia de Quatro-Bocas, em Tomé-Açu (PA).
A Beneficência Nipo-Brasileira da
Amazônia presta ainda serviços de
atendimento médico móvel (Assistência
Médica Móvel), oferecido às pessoas
que
residem em locais de difícil acesso aos serviços
de saúde. Esse trabalho ocorre
desde 1965, beneficiando os moradores de vários
municípios do Estado do Pará.
Este serviço é desenvolvido em parceria com a
JICA.
A Benama mantém ainda o Projeto Vida
Ativa na Terceira Idade, que são
atendimentos voltados aos idosos da comunidade, iniciada em 2009 pelo
seu departamento
de serviço social. Neste projeto, foi criado um
espaço que proporciona momentos
de interação e reflexão sobre as
mudanças que ocorrem na terceira idade em
busca da melhoria de qualidade de vida dos idosos a partir do bem estar
físico
e emocional.
COMENTÁRIOS
No Brasil, os idosos constituem há
alguns anos o segmento da população
que mais cresce. Entre 1991 e 2000, o número de habitantes
com sessenta anos ou
mais aumentou duas vezes e meia (35%), comparativamente às
outras faixas
etárias (14%), segundo dados do IBGE de 1992 e 2002. A
população de nikkeis no
Brasil estimada em 1.228.000 em 1988 passa também por
idêntico fenômeno de envelhecimento
e de aumento da expectativa de vida. Em 1969, a
população nikkei no Brasil com
mais de 60 anos era de 5,4%, contra 9,7% em 1988 e 23,2% em 2002 9.
Neste contexto, é natural que ocorra aumento da demanda de
atendimento
médico-hospitalar com predomínio cada vez mais
acentuado de pacientes da
terceira idade.
Percebe-se que as entidades nipo-brasileiras
que surgiram para apoiar
os imigrantes japoneses nas dificuldades iniciais, permanecem
justificando o
ideário da assistência ao imigrante
japonês. Inicialmente os esforços se
voltaram para superar doenças infectocontagiosas e
dificuldades de comunicação
da língua. Atualmente a atenção se
dirige para as necessidades da terceira
idade. É claro que essas mudanças não
ocorrem somente no atendimento da
comunidade Nikkei; elas são gerais. Hospitais,
médicos e outros profissionais
de saúde tem que acompanhar a evolução
que acontece.
Importante destacar o apoio de empresas e de
entidades governamentais
japonesas, como a JICA, que apoiando as
instituições nipo-brasileiras,
possibilitaram a viabilização desta
assistência. É importante ainda ressaltar
que os atendimentos médico-hospitalares dessas
instituições abrangem toda a
comunidade brasileira. O percentual de pessoas da comunidade nikkei
é relativamente
pequeno, não chegando a 15%.
REFERÊNCIAS
1.
ACCIJB: Site oficial da ACCIJB -
Centenário
da Imigração Japonesa no Brasil – Home
[página na internet]. São Paulo: ACCIJB;
c2017 [visto em 2017 abril 04]. Disponível em Site – www.centenario2008.org.br
2.
Centro de
Estudos Nipo-Brasileiros: Pesquisa da população
de descendentes japoneses
residentes no Brasil (1987-1988).
Centro de Estudos Nipo-Brasileiros (ed.). 1990
3.
Hospital Santa Cruz: Hospital Santa Cruz.
[página na internet]. São Paulo: Hospital Santa
Cruz; c2017 [visto em 2017
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Enkyo: Enkyo. [página na internet].
São
Paulo: Enkyo; c2017 [visto em 2017 abril 04]. Disponível em http://www.enkyo.org.br/
5.
Hospital Nipo-Brasiliero: Hospital
Nipo-Brasileiro [página na internet]. São Paulo:
Hospital NIpo-Brasileiro;
c2017 [visto em 2017 abril 04]. Disponível em http://www.hospitalnipo.org.br/
6.
Hospital SBC: 53 anos de história
[página na
internet]. São Paulo: SBC; c2011 [visto em 2017 abril 04].
Disponível em http://www.hospitalsbc.com.br/quem-somos
7.
Jornal Nippak: Comunidade nipo-brasileira no
Pará comemora o Dia da Imigração
Japonesa na Amazônia. [página na internet].
São Paulo: Jornal Nippak; c2017 [visto em 2017 abril 04].
Disponível em http://www.portalnikkei.com.br/belem-pa-comunidade-nipo-brasileira-no-para-comemora-o-dia-da-imigracao-japonesa-na-amazonia-na-xxvi-semana-da-cultura-japonesa/
8.
Jornal Nippak:
Inauguração da 3ª ala e
homenagens marcam os 50 anos da Benama [página na internet].
São Paulo: Jornal
Nippak; c2017 [visto em 2017 abril 04]. Disponível em http://www.portalnikkei.com.br/beneficencia-nipo-brasileira-da-amazonia-inauguracao-da-3a-ala-e-homenagens-marcam-os-50-anos-da-benama/
9.
Izumi,
Patrícia Tamiko: “Envelhecimento dos imigrantes
japoneses em São Paulo,
Brasil”, in Machado, Fernando Luís (org.), Revista
Migrações – Número
Temático
Imigração e Envelhecimento Ativo, nº 10.
2012
Recebido:
18/04/2017; Publicado: 28/04/2017
Correspondência:
Milton
Osaki, e-mail: m.osaki@yahoo.com.br
Conflito de Interesses:
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