Rev. Adm. Saúde
Vol. 17, Nº 66, Jan. – Mar. 2017
ARTIGO
ORIGINAL
Avaliando o Impacto
da Estratégia de Segurança do Paciente Implantada em uma Unidade de Clínica
Médica de um Hospital Universitário sob a Perspectiva da Dimensão da Atenção à
Saúde
Assessing
the impact of Patient Safety strategy implemented in a Clinical Unit of a
University Hospital under the Perspective of Health Care Dimension
Joseilda Alves da Silva1,
Flávia Cristina Morone Pinto2
1. Graduanda do Curso de Saúde Coletiva, do Centro Acadêmico de Vitória (CAV), da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Vitória de Santo
Antão. Pernambuco. Brasil.
2. Enfermeira.
Doutora em Ciências (UERJ). Professora Adjunta do Curso de Saúde Coletiva, do Centro Acadêmico de Vitória (CAV), da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Vitória de Santo
Antão. Pernambuco. Brasil.
RESUMO
Considerando a magnitude do tema Segurança do Paciente (SP) e sua
relevância na dimensão do cuidado em saúde e na qualidade da assistência. Este
estudo tem por objetivo analisar as estratégias de segurança do paciente
implantadas na unidade de clínica médica (UCM) de um hospital de ensino em
Pernambuco. Foi utilizada a metodologia quanti-qualitativa de natureza
descritiva, por meio da análise dos indicadores do Plano de Segurança do
Paciente (PSP) da Instituição. Para coleta dos dados utilizou-se um formulário
adaptado da EBSERH (Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares). Foi
estabelecido o Índice de Conformidade (IC) ideal ≥ 80% para todos os
indicadores descritos, ou seja, o percentual de adequação que reflete a
segurança em relação à assistência prestada. Quanto a Cultura Organizacional observou-se
um IC de 60.97%. Quanto aos Processos de
Gestão de Risco teve um IC de 60,0%; e, quanto ao Núcleo de Segurança do Paciente na UCM, um IC de 56,25%. Conclui-se que há a necessidade da
estruturação de medidas que assegurem a implantação de uma cultura voltada para
a segurança do paciente, identificando erros, adequando processos e promovendo
melhorias contínuas, na busca pela qualidade da assistência à saúde.
Palavras-chave: Gestão da Qualidade. Segurança do
Paciente. Gestão de Riscos. Cultura Organizacional.
ABSTRACT
The magnitude of the patient safety (SP) issue and its
relevance in the dimension of health and quality of care it is essential to the
development of studies to assess the relationship between health care processes
and outcomes from it, securing to improve quality assistance in the hospital
network. This study aimed to analyze the patient safety strategies implanted in
the medical clinic unit of a teaching hospital in Pernambuco. Was used a
quantitative methodology of a descriptive nature, through the analysis of
Patient Safety Plan indicators (PSP). For data collection was used an adapted
form of EBSERH (Brazilian's Company of the Hospital Services). It was
established the ideal Compliance Index (CI) ≥ 80% for all indicators described,
i.e. the adequacy percentage that reflects the safety for the assistance
provided. The Organizational Culture there was an IC of 60.97%. As for the risk
management processes had a CI 60.0%; and as the Patient Safety Center at UCM,
an IC of 56.25%. In conclusion, there is a need of structuring measures to
ensure the implementation of a culture focused on patient safety, identifying
errors, adapting processes and promoting continuous improvement of the health
care quality and patient safety.
Keywords: Quality Management. Patient
Safety. Risk Management.
Organizational Culture.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o tema Segurança do Paciente (SP) vem
sendo amplamente discutido na busca da melhoria da qualidade da assistência a
saúde, pois eventos adversos relacionados à assistência são frequentes,
tornando a SP como um componente crítico de melhoria da qualidade do cuidado de
saúde em todo o mundo, visto que constitui globalmente um grave problema de
saúde pública¹. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a segurança do
paciente é definida como a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano
desnecessário associado ao cuidado de saúde².
O
relatório sobre erros relacionados com a assistência à saúde “Errar é
humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”³, apontando a elevada
ocorrência de eventos adversos nos hospitais, sendo
A partir
da década de
De acordo
com Aline, Bueno & Fassarella (2011), no Brasil, pesquisas nesta área
surgiram no início da década de 2000, influenciados pelo panorama global4.
Quase duas décadas já se passaram e ainda continua incipiente o processo de SP
e uma assistência de qualidade nas unidades de saúde da rede publica.
Como resposta aos fatos e
consequências decorrente de erros humanos a Joint Commission International (JCI)
lançou em 2011 as seis Metas Internacionais para a Segurança do Paciente (International
Patient Safety Goals - IPSG)5, onde considera-se que avaliar a SP no hospital permite identificar e gerir antecipadamente
questões relevantes de segurança nas rotinas de trabalho.
Este estudo teve como objetivo analisar
as estratégias de segurança do paciente implantadas na unidade de clínica
médica de um hospital de ensino em Pernambuco, quanto à eficiência na
detecção, prevenção e atenuação de erros e eventos adversos no setor, sob a
perspectiva da dimensão do cuidado de saúde.
METODOLOGIA
Desenho do estudo
Estudo descritivo e
abordagem quanti-qualitativa, por meio da análise dos indicadores do Plano de
Segurança do Paciente (PSP). Adicionalmente foi realizado um levantamento
bibliográfico em base de dados de abrangência
nacional e internacional, LILACS (Literatura Latino Americana de Ciências de
Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library Online), CQH
(Compromisso com a Qualidade Hospitalar) PROQUALIS e MedLine (Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online), no
período entre março a outubro de 2016 com os seguintes descritores: Segurança
do paciente; dimensão do cuidado; Gerenciamento de Risco; Ferramentas para a
Gestão da Qualidade. O objetivo deste levantamento foi fundamentar o assunto
sem a intenção de esgotá-lo.
Local do Estudo
O
cenário do estudo foi uma Unidade de Clínica Médica (UCM) de um Hospital Universitário
de Ensino Federal, um órgão suplementar à Universidade, e gerenciado desde
2013, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e que atua como
hospital-escola.
Instrumento de Pesquisa e coleta de dados
O plano de segurança do
paciente instituído neste Hospital, para a UCM foi analisado. A partir desta
análise foram definidos os indicadores prioritários a serem avaliados, quanto
aos processos de segurança do paciente.
Foi utilizado um formulário
previamente adaptado do Roteiro para diagnósticos das filiais EBSERH.
De acordo com este roteiro, os parâmetros usados para
auxiliar esta análise foram abordados em três grandes áreas: Cultura
Organizacional; Funcionamento do Núcleo de Segurança do Paciente e Gestão de
Riscos.
A seguir, na Tabela 1, estão descritas
as dimensões mensuráveis pelo instrumento com o objetivo de auxiliar o
entendimento no diagnostico situacional, levando-o a construção do PI com foco
na Segurança do Paciente da Unidade de Clínica Médica.
|
Dimensões
Mensuráveis |
Variáveis
Correspondentes |
Cultura
organizacional |
Protocolos |
- Identificação
correta do paciente - Guarda e
administração de medicamentos - Prevenção de quedas - Prontuários:
checagem e registros - Prevenção de
úlceras de pressão - Prevenção de quedas - Prevenção de
infecções - Administração de
sangue e hemocomponentes - Transferência de
pacientes - Higienização das
mãos - Gerenciamento de
resíduos do serviço de saúde - Uso seguro de
equipamentos |
Segurança |
- Riscos inerentes ao
processo de trabalho - Gerenciamento de
risco |
|
Gestão de riscos |
Tecnovigilância |
- Realiza ações de
tecnovigilância |
Farmacovigilância |
- Erro de medicação - Reações adversas - Efetividade
terapêutica - Queixas técnicas - Uso off label |
|
Hemovigilância |
- Reações
transfusionais - Demais
incidentes |
|
Monitoramento |
- Indicadores de
acompanhamento - Média mensal de
notificação |
|
Funcionamento dos núcleos de
segurança do paciente |
Implementação de protocolos |
- Segurança cirúrgica - Prescrição e
administração de medicamentos - Prevenção de quedas - Prevenção de
ulceras de pressão - Prescrição, uso e
administração de medicamentos - Uso de equipamentos
e materiais - Prevenção e
controle de eventos adversos - Terapias enteral e
parenteral - Comunicação efetiva - Participação dos
pacientes e familiares na assistência prestada - Estratégias para a
promoção do ambiente seguro |
Ações relacionadas aos riscos e eventos adversos |
- Monitoramento - Avaliação - Tratamento - Comunicação |
Tabela 1: Dimensões mensuráveis quanto à
Segurança do Paciente. Elaborado pelos autores com base no Instrumento de Avaliação
da Qualidade da EBSERH.
A coleta de dados ocorreu durante o mês de
setembro de 2016 e foi conduzida por meio de visualização direta das condições apresentadas
tanto na
estrutura quanto nos processos de trabalho das equipes da Unidade de Clínica
Médica do Hospital de Ensino. Cada variável do formulário foi minuciosamente
observada e detalhada de forma descritiva, para que não houvesse precipitação
na análise, tendo em vista a segurança e efetividade da pesquisa.
Análise dos Dados
Os dados foram registrados em
planilhas eletrônicas no
programa Microsoft Excel®, versão 2013, para formação de um banco de dados e tabulação.
Para a identificação do risco foi realizado um
levantamento dos fatores contribuintes para a ocorrência de incidentes e/ou
eventos adversos, através da observação direta e as
informações resultantes da análise de dados realizados no diagnóstico
situacional.
A análise de risco e
definição das possíveis causas associadas aos incidentes/eventos encontrados foram
avaliadas através do método de “brainstorming” e o diagrama de Ishikawa.
Buscando assim, a identificação da causa fundamental de um processo durante a coleta de
dados 6.
Com base nos padrões estabelecidos pela JCI
foi estabelecido o Índice de Conformidade (IC) ideal ≥80% de conformidade para
todos os indicadores descritos, ou seja, o percentual de adequação que reflete
a segurança em relação à assistência prestada5. O IC ideal (≥ 80%)
foi balizado no Índice de Positividade (IP), que estabelece os seguintes
parâmetros: 100% de positividade significam que para o quesito analisado houve
100% de acerto ou conformidade, o que corresponde a uma assistência desejável;
de
Aspectos
Éticos
Esta pesquisa está ancorada ao “Projeto
Qualis: Análise de Indicadores e Processos para Gestão de Qualidade” e foi
desenvolvida conforme as normas preconizadas na Resolução do Conselho Nacional
de Saúde/CNS número 466/12, que disciplina a pesquisa com seres humanos. O projeto
de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética de Pernambuco (CEP/CCS/UFPE) e
aprovado conforme Parecer de Nº 1.763.733 de 06 de Outubro de 2016.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Hospital onde o estudo foi realizado possui capacidade instalada
de 407 leitos, numa área construída de 62.000m2. A estrutura predial
do Hospital é em formato de H, está divido em 5 blocos, onde estão os blocos B
(ao sul) e C (ao norte) constituído de onze andares. O serviço de internação
funciona do 4º ao 11º andar nos dois blocos, B e C, incluindo as Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
O
Hospital conta com um Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), constituído
formalmente em Julho de 2014, seguindo as normatizações da Portaria/MS N°529,
de 1°de Abril de 2013 que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente
(PNSP) e de Resolução da Diretoria Colegiada, RDC N° 36, de 25 de Julho de 2013,
que institui ações para segurança do paciente em serviços de saúde, com o
intuito de promover e apoiar a implementação das metas de segurança, a fim de
reduzir, a um mínimo aceitável, o risco de dano desnecessário associado à
atenção à saúde8.
A Unidade de Clínica Médica (UCM)
deste Hospital foi escolhida para sediar o projeto piloto elaborado pelo NSP
estando localizada na parte frontal do Hospital, no 11º andar, possui 13
enfermarias e 26 leitos.
Há uma série de razões para uma
organização hospitalar utilizar questionários para avaliar questões
relacionadas à cultura de segurança: questionários podem ser utilizados como
uma ferramenta diagnóstica para auxiliar na identificação de áreas as quais
necessitam melhorias; são muito adequados para avaliar iniciativas de segurança
do paciente, avaliam mudanças ao longo do tempo e fazem comparações com
referências de dados externos1.
A avaliação da cultura é essencial,
porque são os hábitos (dos profissionais) que determinam as ações que vão
ocorrer em todos os processos, possibilitando identificar e gerir questões
relevantes de segurança nas rotinas e condições de trabalho. Esta abordagem
permite acessar informações dos funcionários a respeito de suas percepções e
comportamentos relacionados à segurança, identificando pontos fracos e fortes
de sua cultura de segurança e as áreas mais problemáticas para que se possa
planejar e implementar intervenções¹.
Neste sentido, o formulário traz um
capítulo exclusivo sobre a cultura organizacional, com o intuito de conhecer as
fragilidades e potencialidades assistenciais que a unidade oferece.
Análise dos Indicadores do Plano de
Segurança do Paciente
A análise dos indicadores do PSP da instituição se deu a partir da
leitura do Plano de Segurança do Paciente da Instituição, tendo uma ampla
percepção sobre as estratégias utilizadas para definição dos mesmos. As
estratégias são estabelecidas pela RDC Nº 36/2013 da Anvisa8.
A
UCM ainda não implantou nenhum
indicador numérico. Assim, os resultados descritos nesta
pesquisa estão baseados
na observação direta dos processos de trabalho, das
instalações físicas, de informações
obtidas diretamente dos profissionais da UCM e da equipe do NSP, que
teve como
base os registros de Eventos Adversos (EA) do VIGIHOSP (Sistema
Eletrônico de
Vigilância).
Em 2014, com a formação do NSP,
composto por 4 (quatro) enfermeiros exclusivos e destas 2 (dois) podem participar
nas instâncias deliberativas do serviço de sáude, iniciou-se
o processo de implantação das metas de segurança, formando subgrupos
multiprofissionais para trabalhar com cada uma das metas estabelecida na UCM. A
equipe tem autonomia para planejar e executar as ações, mas entraves impediram que as metas fossem efetivadas de forma mais rápida,
dentre eles estão: os recursos humanos e financeiros; sendo justificado pela
transição de gestão que ocorreu neste mesmo período de tempo.
Apesar das barreiras enfrentadas o
NSP deu continuidade às atividades referentes à implantação das metas, porém só
em 2016 é que pode iniciar com a gerência de risco, a partir da instituição da
Unidade de Gerenciamento de Riscos Assistenciais (UGRA), com uma equipe
composta por 3 (três) enfermeiros. A UGRA, em
conjunto com outras instâncias do hospital, definiu os indicadores para cada
meta internacional de segurança do paciente.
Os Indicadores relacionados à meta
1 “Identificação correta do paciente” foram: Número de eventos adversos devido
a falhas na identificação do paciente e proporção de pacientes com pulseiras
padronizadas entre os pacientes internados. Este processo assegura ao paciente
que a ele é destinado determinado tipo de procedimento ou tratamento,
prevenindo a ocorrência de erros e enganos que o possam lesar9,10.
De
acordo com o Protocolo de Identificação Correta do Paciente do Ministério da
Saúde11, erros de identificação do paciente podem ocorrer, desde a
admissão até a alta do serviço, em qualquer fase do tratamento. Alguns fatores
podem potencializar os riscos na identificação do paciente como: estado de
consciência do paciente, mudanças de leito, setor ou profissional dentro da
instituição e outras circunstâncias no ambiente.
Cerca
de 850 pacientes nos Estados Unidos são transfundidos com sangue destinados a
outros pacientes e aproximadamente 3% desses pacientes evoluem para óbito. Em
cada 1.000 pacientes que recebem transfusões de sangue ou de hemocomponentes,
um indivíduo recebe o que seria destinado à outra pessoa¹². Neste estudo, os
autores ressaltam os altos níveis de consciência profissional da equipe, assim
como a importância da participação do paciente para minimizar o risco de dados
errôneos e a preocupação com o uso do dispositivo em algumas circunstâncias
clínicas especiais, como transfusão de sangue e administração de medicamentos¹².
Esta é uma meta que já esta
implantada na UCM e, durante o período da pesquisa, já havia adotado o uso das
pulseiras e a placa de identificação no leito. A responsabilidade de fazer a
identificação do paciente, através da pulseira, é do Serviço
de Admissão e Alta (SAA). Porém, alguns pacientes tem chegado à UCM sem
a identificação e/ou feito um fluxo contrário ao protocolo de internação, sendo
admitido diretamente na UCM sem antes passar pelo SAA.
Algumas
campanhas educativas intituladas de “quem identifica corretamente o paciente
levanta a mão; pulseira de identificação mais segurança para todos” realizadas
na instituição como um todo, tem levado a uma adesão dos profissionais de forma
contínua, sendo possível observar a mudança de cultura em um pequeno espaço de
tempo, de forma que os pacientes/clientes internados na UCM, estavam orientados
quanto ao processo identificação.
Os indicadores relacionados à meta 2
(dois) “Melhorar a comunicação entre profissionais de saúde”. A comunicação
permeia todas as atividades que integram a assistência ao paciente. Quanto mais
especializado for o serviço, maior a necessidade de informações técnicas,
especializadas e precisas. Por isso foram avaliados: número de eventos adversos
devido a falhas na comunicação verbal; taxa de ordens verbais registradas entre
o total das informações verbais; e, assegurar comunicação inequívoca em 100%
das prescrições e resultados de exames verbais.
Um requisito essencial para a
continuidade do cuidado e a segurança do paciente é a comunicação consistente
entre os profissionais, de uma equipe para a próxima e entre profissionais,
paciente e familiar. Enquanto os profissionais se alternam, o paciente e a
família são os mesmos e, nessa perspectiva, estão em posição-chave para, em
parceria com a equipe, assegurar a continuidade do cuidado¹³.
A comunicação efetiva é bidirecional.
Para que ela ocorra com segurança, é necessário que haja resposta e validação
das informações emitidas. A técnica “leia de volta” (read-back), ou
repita o que foi dito, pode ser utilizada, por exemplo, para validar as
informações transmitidas na passagem de plantão entre os turnos de trabalho: o
profissional anota a informação recebida e repete para a pessoa que a transmitiu,
de modo a confirmar que a compreendeu corretamente14.
Os resultaram mostraram que esta meta
ainda não estava implantada, contudo, foram observadas que ações desenvolvidas
para sua efetiva implantação. O protocolo referente à Comunicação Efetiva entre
os profissionais ainda estava em fase de avaliação pela gerência e alguns cuidados especiais podem ser destacados:
resultados de exames e prescrição médica recebidos verbalmente, por telefone; notificar
no sistema eletrônico de vigilância (VIGIHOSP) qualquer incidente relacionado
ao fornecimento equivocado de informação verbal, quer seja relativo à
resultados errados de exames laboratoriais, quer seja erros na administração de
medicação; notificar no VIGIHOSP a ausência de registro escrito da informação
fornecida verbalmente. Sendo os responsáveis por estas ações os enfermeiros e
médicos.
A UCM não tem registros de
eventos adversos relacionados à comunicação verbal, contudo foram observadas fragilidades na
passagem de plantão.
Os indicadores relacionados à meta 3
(três) “Melhorar a segurança na prescrição, no uso e na administração de
medicamentos”. Os erros de medicação podem
ocorrer em qualquer uma das três etapas do processo de uso de medicamentos:
prescrição, dispensação e administração. Assim sendo, os parâmetros avaliados
foram: Taxa de erros na prescrição de medicamentos; Taxa de erros na
dispensação de medicamentos; Taxa de inadequação dos carros de medicações de
urgência.
A
UCM não
possui protocolo referente ao uso seguro de medicamentos, ficando assim
a
unidade em estado de alerta, exigindo os profissionais um nível
de atenção
ainda maior quanto ao uso, guarda e administração dos
medicamentos. Porém,
ações vêm sendo implementadas no sentido de
garantir a segurança e a qualidade
na assistência prestada, como por exemplo, a equipe de
farmacovigilância que atua
com ações de educações referentes à
prescrição correta. As principais ações
são
referentes ao carimbo, pois muitas prescrições chegam sem
o carimbo do
solicitante; assinatura, muitos esquecem de assinar a
prescrição; e a dosagem
elevada de alguns fármacos.
Os
indicadores da meta 4 (quatro)
“assegurar a cirurgia em local de intervenção, procedimento e paciente
corretos” são: Percentual de
pacientes que recebeu antibiótico profilaxia no momento adequado; Número de
cirurgias em local errado; e, Número de cirurgias em paciente errado.
Em outubro do ano de
Esta é uma meta já implantada no
hospital, o que reflete positivamente na UCM. Observou-se a existência de um
protocolo eficiente com relação à cirurgia segura e também o uso do cheklist
para cirurgia segura. A adoção desta prática reflete o desejo de mudança da
instituição e o compromisso com a segurança do paciente. Ressalta-se que mesmo
tendo protocolo de cirurgia segura e os usos de checklist, erros podem ocorrer
devido a falhas na comunicação, já que esta ainda é uma fragilidade da
instituição.
Os
indicadores da meta 5 (cinco)
“Higienização das mãos para
prevenção de infecções relacionadas a
assistência a
saúde” são: Assegurar 100% higiene das mãos
em todas as oportunidades.
Percentual de infraestrutura adequada: número de pontos para
higiene.
As mãos compõem a fundamental via de
transmissão de microrganismos durante os cuidados de saúde, pois a pele é um
possível reservatório de diversos microrganismos, que podem se transferir de
uma superfície para outra. A higienização das mãos é a medida individual mais
simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação das infecções
relacionadas à assistência à saúde16.
A UCM apresenta 31 pontos de
higienização distribuídas nas 13 enfermarias, dos quais 18 são dispensadores de
álcool gel e 13 pias. No período da coleta de dados para este estudo, 13 pontos
dos dispensadores estavam sem álcool gel e 12 pias estavam com água. Apenas uma
enfermaria não tinha torneira na pia.
Neste sentido, não tem como prever uma
meta de 100% de higienização das mãos, uma vez que a UCM apresenta problemas
estruturais, o que dificulta a adesão de tais práticas, possibilitando o
surgimento de infecções cruzadas, podendo assim aumentar o tempo de permanência
na unidade de saúde, gerando mais desconfortos aos pacientes/clientes,
aumentando os custos assistenciais e diminuindo a rotatividade de leitos.
Os indicadores da meta 6 (seis)
“Reduzir o risco de quedas e úlceras por pressão” são: Identificar 100% dos
pacientes com risco para queda e úlcera cutânea e aplicar medidas de prevenção;
número de quedas com dano; número de quedas sem dano.
As úlceras por pressão (UPP) são
consideradas evitáveis e, em muitos casos, graças à adoção de medidas de
prevenção, mas representam um grande desafio para a assistência em saúde,
representando alto custo financeiro e emocional para os pacientes/clientes,
familiares e para as organizações de saúde17. Ainda que seja
considerado um problema de alta incidência em pacientes hospitalizados e
classificado como um EA, a sua ocorrência nem sempre está condicionada a falhas
no cuidado, mas, por vezes, a questões intrínsecas dos pacientes atendidos18.
Esta meta ainda não está implementada.
Algumas ações já estão sendo desenvolvidas e com resultados positivos, como a
escala de Braden, que tem sido usada na UCM e o relógio que permite a interação
do acompanhante na mudança de decúbito.
A adesão à escala de Morse para
identificar pacientes com risco de quedas, devido a algumas barreiras
estruturais ainda não está implantada.
Vale ressaltar que a UCM não apresentou
nenhuma incidência de UPP, durante todo período de coleta, bem como não houve registro
de quedas com danos ao paciente. Alguns registros de quedas sem danos foram
encontrados no VIGIHOSP, todos associados a idosos que ficaram sem
acompanhantes em algum momento durante o período de internação em outras
unidades.
Os indicadores da meta 7
(sete) “Melhorar a segurança na prescrição das solicitações de transfusões de
sangue (STS), no uso e na administração de hemocomponentes” são: Identificar
corretamente 100% das amostras; e, Preencher corretamente 100% das Solicitações de Transfusões de Sangue (STS).
A
transfusão de sangue e hemocomponentes são indicadores para pacientes que
sofreram perda sanguínea significante ou alterações hematológicas decorrentes
de doenças ou procedimentos. Algumas ações são sugeridas para evitar erros na
administração, pois podem comprometer a segurança do paciente19.
No
Brasil, os órgãos e os serviços responsáveis por transfusões de sangue, pelo
controle e prevenção da infecção associada ao cuidado em saúde e pelos serviços
de anestesia podem ser considerados pioneiros no que tangem as medidas que
promovem a segurança do paciente.
Estes,
há anos, adotam medidas para garantir a segurança dos processos de cuidado, com
bons resultados20.
Esta
é uma meta que ainda não foi implementada, contudo já existe protocolo de
excelência dentro da instituição, o que não mitiga os erros nas solicitações de
transfusões de sangue (STS), mas ao chegar ao serviço de hemoterapia as fichas
voltam à unidade solicitante para as devidas correções, impossibilitando assim
que erros aconteçam.
Considerando todos os parâmetros avaliados quanto a estruturação do Núcleo
de Segurança do Paciente na UCM e a implantação dos indicadores relacionados as
metas Internacionais de Segurança do Paciente, observou-se um ìndice de
Conformidade (IC) de 56,25%, ou seja, inferior ao recomendado pela JCI (≥ 80%).
Avaliação dos riscos
inerentes aos processos de trabalho no setor de clínica médica
O mapeamento dos riscos
inerentes aos processos de trabalhos na UCM ainda está em processo de
implantação. A Avaliação Preliminar dos Riscos (APR) assistenciais na unidade
já foi construída e encaminhada para as chefias.
Em 1944, foi criada a
primeira legislação estabelecendo a obrigatoriedade de formação das Comissões
Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA). Contudo, os acidentes de trabalho
continuaram a crescer, com grandes perdas humanas e econômicas.
O mapa de riscos é a
representação gráfica dos riscos de acidentes nos diversos locais de trabalho. Risco
é definido por toda e qualquer possibilidade de que algum elemento ou
circunstância existente num dado processo ou ambiente de trabalho possa causar
dano à saúde, seja por meio de acidentes, doenças ou do sofrimento dos
trabalhadores, ou ainda por poluição ambiental21. Os riscos podem ser classificados em: físicos; químicos; biológicos; ergonômicos.
Desta forma, na UCM acidentes podem ocorrer em função da não existência
do mapa de risco, tornando assim o ambiente susceptível a falhas. Contudo,
ressalta-se que erros são esperados mesmo nas organizações de excelência, pois
errar é inerente ao ser humano e não é possível muda-lo, mas é possível mudar
as condições em que os indivíduos trabalham, podendo assim mitigar os erros e
até preveni-los.
A implementação de estratégias para promoção do ambiente seguro, através
do SOST (Serviço de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho) e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA ) foram observadas.
Análise das estratégias de segurança
do paciente implantadas no setor, sob a perspectiva da dimensão do cuidado de
saúde.
No contexto organizacional, as
estratégias são de importância para qualquer organização seja empresarial
visando o lucro e enfrentar de forma positiva as concorrentes, quanto
hospitalar na busca de uma qualidade assistencial.
Desta forma, pode-se afirmar que as
estratégias podem ser consideradas como uma mola impulsora para uma gestão de
qualidade; no âmbito hospitalar, elas tomam uma ênfase ainda mais complexa,
pois além de buscar garantir o sucesso dos planos e métodos assistenciais, elas
visam uma integração de toda rede de saúde com o objetivo de garantir a SP.
Até os anos 1990, o foco da saúde
estava no aspecto curativo. Hoje, os sistemas de saúde estão voltados para a
prevenção. Essa mudança de enfoque, associado às novas tecnologias, à
conscientização do paciente, à crise de financiamento e à falta de
profissionalização da gestão, são situações que têm feito com que os hospitais
tentem alterar suas estratégias de gestão para poderem sobreviver em cenário tão
adverso3.
Para uma assistência
segura faz-se necessário um planejamento no qual sejam definidas as estratégias
que impliquem diretamente na qualidade da assistência. Devem ser levados em
consideração a implementação de protocolos, o mapeamento dos riscos
assistenciais, as barreiras que impeçam a comunicação efetiva, a mitigação de
EA e a mudança da cultura organizacional, que acompanhe os preceitos da
segurança do paciente.
A segurança do paciente resulta do
esforço e comprometimento diário de equipes multiprofissionais, instituições e
serviços de atenção à saúde, públicos e privados, de processos e sistemas
organizados, avaliados e aprimorados continuamente quanto à prevenção e redução
de danos, do reforço contínuo para as boas práticas assistenciais recomendadas
por agências nacionais e internacionais, da formação de profissionais da saúde
e de uma política nacional de segurança no cuidado à saúde22.
Sobre os processos de Gestão de Risco
relacionados às Tecnologias em Saúde, considerando as ações e serviços
desenvolvidos pelo NSP dentro da unidade hospitalar, observou-se um percentual
de 60,0% de conformidade. O padrão de conformidade
instituido pela JCI para se ter uma assistência segura é de ≥ 80%.
Os processos de gestão de riscos relacionados às tecnologias estão
alocados no SCIH (Serviço de Controle da Infecção Hospitalar) e vinculados a Gerência
de Atenção a Saúde, da Instituição Hospitalar, executando as açoes de
tecnovigilância. A engenhraria clínica realiza as ações de manutenção
preventiva e corretiva dos equipamentos e a equipe de enfermagem faz a checagem
dos equipamentos, mas não foram observados documentos que formalizem estas
atividades.
O SCIH também executa ações de farmacovigilância que é definida como
conjunto de procedimentos para o monitoramento das reações transfusionais
resultantes do uso terapêutico de sangue e seus componentes, visando a melhoria
da qualidade dos produtos e processos em hemoterapia e o aumento da segurança
do paciente.
Sobre o serviço de hemovigilância e reações transfusionais e demais incidentes, foi observado um padrão
de qualidade adequado, inclusive com indicadores de acompanhamento destas ações
já implantados.
Avaliação da Cultura Organizacional
A cultura é um processo contínuo de desenvolvimento social de uma
coletividade adiquirido através da aprendizagem, pela qual as competências,
habilidades, conhecimentos, comportamentos e valores são adiquiridos ou
modificados, como resultado do estudo, experiência, formação, raciocínio e
observação. Desta forma ela é dinâmica e torna-se um elemento adaptativo,
podendo sofrer mudanças, ganhando novos traços e perdendo alguns23.
A cultura organizacional é positivamente correlacionada com o
comportamento do líder. O líder influencia no desenvolvimento de
comportamentos, valores e crenças de seus subordinados, possibilitando o
fortalecimento da cultura organizacional1.
Melhorias na segurança do paciente são conseguidas com sucesso quando as
instituições de saúde constituem e incorporam uma cultura de segurança.
Uma cultura de segurança promove uma aprendizagem na organização, onde os
membros da equipe repartem informações sobre os erros a fim de precaver a sua
recorrência. A instituição deve ressaltar que a responsabilidade é partilhada,
o que significa que todos têm responsabilidade pela segurança do paciente,
independente do cargo. Pacientes e familiares devem ser incluídos como
parceiros respeitados e devem entender a sua própria responsabilidade, para
manterem-se seguros24.
Com base na observação direta da
equipe do NSP na UCM, observou-se 60,97% de conformidade sobre os parâmetros
relacionados à cultura de segurança do paciente na organização, quando o ideal
deve ser ≥80%.
Observa-se a necessidade da
implementação de medidas que assegurem a instituição de uma cultura voltada
para a segurança do paciente, identificando erros, adequando processos e
promovendo melhorias e incentivos, na busca pela qualidade da assistência à
saúde.
Diversos autores expressam a qualidade
da atenção hospitalar afirmando que muitos pacientes dentro dos hospitais
sofrem danos evitáveis e eventos adversos ocasionados durante o processo
assistencial e que os mesmos se constituem um problema de saúde pública,
necessitando de respostas urgentes e efetivas para sua redução em serviços de
saúde13,25-27.
Apesar
de ter sido instituído em 2014, o NSP só veio a ter maior ênfase e resultados
nas ações em 2016, desta forma acredita-se que as fragilidades encontradas
sejam mitigadas de forma mais rápida e efetiva, passando assim a utilizar os
indicadores como forma de contribuir para melhoria continua da organização.
Iniciativas
exitosas foram observadas na instituição como, por exemplo, o programa de
capacitação em segurança do paciente dos funcionários do hospital; a campanha
“adorno zero”; o treinamento para uso do VISHOSP; treinamento de biosegurança;
e, difusão da campanha de identificação do paciente.
Grande
parte destas ações são desenvolvidas entre o NSP, a UGRA, a SCIH e o NEPE
(Núcleo de Educação Permanente).
Compreende-se que a mudança organizacional do processo de cuidado assistencial, permitirá
o rompimento com as práticas tradicionais e possibilitará a permuta das
condutas individuais para as coletivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo avaliou o padrão de cumprimento das normas de segurança do
paciente na clínica médica de um hospital de ensino em Pernambuco. Por meio da
observação dos processos de trabalhos e a utilização do formulário da EBSERH,
constatou-se alguns entraves no processo de efetivação da implantação do NSP.
Contudo, tais entraves não impediram a continuidade das ações programadas para
a UCM da instituição em foco, compreendendo que é um processo novo, não
habitual aos serviços públicos de saúde e com resultados de longo prazo.
Foi
possível mensurar os riscos inerentes aos processos de trabalho, tendo como
base as metas internacionais definidas pela Joint Commission International. Apesar da UCM já está com a UGRA instalada, o mapa de risco ainda não
foi aprovado pela gerência geral, ele serve para mostrar os riscos presentes no ambiente de trabalho, fazendo um diagnóstico da situação do setor, como também,
para determinar medidas de prevenção ou anulação dos referidos riscos.
A ausência de protocolos essenciais como o de higienização
das mãos, de administração e guarda de medicamentos, de prevenção de quedas e de
UPP (em apreciação), são alguns protocolos relacionados às metas de segurança da
JCI.
Outra
crítica importante feita à análise dos riscos é a estrutura física que
necessita de algumas reformas com urgências, de forma que as possibilidades de
riscos provenientes da mesma possam não existir, como: melhorias nos pisos,
evitando quedas; pontos de higienização evitando as IRAS, pois muitos
profissionais saem da anamnese e não realizam assepsia das mãos e nem dos
equipamentos utilizados.
Através
dos riscos mensurados e as estratégias de segurança do paciente
analisadas, será possível elaborar um plano de intervenção, utilizando para
isso as ferramentas de gestão apropriadas.
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Recebido: 04/12/2017;
Aceito e publicado: 15/12/2017
Correspondência: Flávia C. Morone Pinto. Centro
Acadêmico de Vitória (CAV/UFPE). Vitória de Santo Antão – Pernambuco, Brasil. E-mail: fcmorone@gmail.com
Contribuição dos autores:
todos os autores participaram da
elaboração do conteúdo, da análise e
interpretação dos dados, da redação e da
revisão final.
Conflito de Interesses: os autores declaram não haver conflito de interesses.
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